23 de março de 2010

Uma reflexão expressiva atinente ao atributo da Razão atrelado a faculdade da ponderação.

O raciocínio conduz a criatura a soluções racionais, pois quem raciocina pensa, argumenta, compara, deduz e conclui. A faculdade de raciocinar é inerente ao ser humano e o habilita a conjeturar com lógica. O critério é o resultado do trabalho do raciocínio bem orientado. O indivíduo criterioso é sensato, ponderado, firme e seguro nas suas conclusões. As vacilações desaparecem diante do critério sereno e imparcial.

Enquanto há criaturas que pouco uso fazem do raciocínio, optando por soluções desavisadas e levianas, outras existem também que apóiam as suas decisões no vigor do raciocínio, nada resolvendo sem submeter todos os problemas ao exame dessa faculdade. A prática do raciocínio deve repousar em exercício sistemático, em que, em lugar de serem considerados os fatos superficialmente, pela rama, pelas exterioridades, se aprofundem no estudo das questões, investigando todos os ângulos, separando os prós dos contras, medindo-os, até dissecarem toda a matéria em apreciação. Esta é a maneira de se encontrarem a razão e a justiça no interior dos fatos.

A palavra racionalismo é derivada do vocábulo racional, surgindo ambos da aplicação do raciocínio, que se deseja sempre claro e conciso. Quanto mais se raciocina, mais se aprende, porquanto se extrai dos assuntos toda a substância assimilável capaz de aumentar os conhecimentos. Os cientistas são pessoas que chegam com o seu raciocínio às minúcias, estendendo-se, em suas pesquisas, em todas as direções, ganhando assim profundidade, altura e amplidão, sempre que devassam uma área em estudo. Por isso, descobrem e inventam.

A criatura que se habitua a raciocinar erra menos do que aquela que, afoitamente, vai resolvendo ou complicando as suas tarefas. Há quem tenha preguiça de raciocinar, e os maus efeitos dessa indolência não se fazem esperar. Se o ser humano chegou a conquistar o atributo da faculdade superior de poder raciocinar, não deve, de modo algum, desprezar tal conquista como se ela não tivesse valor.

Se os erros campeiam tão abundantemente pela Terra, pode-se afirmar que a sua causa principal é o descaso pelo uso do raciocínio, que leva os seres a atuarem precipitadamente, sem a indispensável prudência e moderação.

Por falta de raciocínio penetrante, deixa-se de reconhecer a verdade da lei da reencarnação. Veja-se, fora dessa lei, se há explicação racional para um nascer nababo, em berço de ouro, em palácio, cercado de abundância, enquanto outro nasce, filho do mesmo Criador, para viver miseravelmente, desprovido de todos os bens; enquanto uns se apresentam com uma inteligência fulgurante, sábios, cientistas, virtuoses, poetas, escritores brilhantes, outros são desprovidos de intelectualidade e têm dificuldade de aprender coisas elementares. Uns desfrutam, outros amargam a vida.

O raciocínio, a lógica, a razão esclarecida mostram como essas citadas discordâncias se justificam, à luz do espiritualismo. No entanto, preferem os indiferentes à verdade espiritual não se aprofundar na questão, não usar convenientemente o raciocínio, para não terem de reconhecer a real e dura situação em que se encontram no cenário tumultuoso da vida.

O raciocínio representa uma chama a iluminar os passos de cada um. É pelo raciocínio que se descobrem os perigos, os riscos, quando se toma este ou aquele rumo. Os que não raciocinam com acerto sobre o processo reencarnacionista estão perigosamente andando por caminhos incertos, sujeitos a sofrer as conseqüências. Todos se devem convencer que é aqui mesmo, na Terra, o lugar para onde voltam, em circunstâncias dolorosas, para renovar a lição não aprendida. É aqui que as criaturas podem fechar os olhos e melhor combater muitas falhas às quais não costumam dar importância, confiadas na promessa do perdão.

Não fossem suficientes todas as provas existentes que evidenciam a lei da reencarnação, ainda se poderia contar com esse poder demonstrativo, que tem os seus fundamentos na força do raciocínio, faculdade que, bem utilizada, produz certeza e convicção, e por esse meio é possível chegar-se aos mais seguros resultados.

O estudo facilita o desenvolvimento do raciocínio. Os que raciocinam bem, sem demonstrar grande erudição, dão sinal de que se estão valendo da bagagem que trouxeram de vidas anteriores, quando acumularam cultura. Para raciocinar bem é indispensável saber ordenar os pensamentos e desenvolvê-los cronológica e dedutivamente. São as ciências matemáticas as que melhor coordenam os elos de uma cadeia e permitem armar o problema numa equação de possível solução.

A criatura em geral não se lembra do que aprendeu nas vidas percorridas, mas o desenvolvimento que obteve manifesta-se, parcialmente, de vários modos, inclusive nesse de raciocinar bem. Os exercícios de concentração também concorrem para expandir o raciocínio. Tome-se um tema, fixe-se nele o pensamento, penetre-se profundamente na matéria, procurando dissecá-la ao máximo e tirando e retirando todo conhecimento que possa oferecer. Com esta prática, ver-se-á quão numerosos são os elementos constituintes de um tema aparentemente banal.

Vencem melhor na vida os que raciocinarem com mais acerto e souberem argumentar racionalmente. Quando o indivíduo puder apresentar proposições inquestionáveis estará em condições de levar de vencida a sua causa. Os que possuem o dom de convencer são aqueles que dispõem de uma capacidade ampla de raciocínio. Todos podem conseguir essa capacidade, desde que se resolvam a desenvolvê-la.

No plano da espiritualidade, não se pode deixar de raciocinar. O joio terá de ser separado do trigo à custa de raciocínio. O “crê ou morre” já foi uma sentença atroz, nos tempos do Santo Ofício.

Infelizmente, algumas seitas ainda a conservam: são aquelas que afirmam haver Jesus vertido o seu sangue na cruz para os salvar. Os que crerem nessa afirmativa estarão salvos do inferno, mas os que não crerem receberão a condenação eterna. Eis a sentença viva do “crê ou morre”! Para esses, quem crê não precisa raciocinar, mas apenas crer. O espiritualista não crê, simplesmente, mas vai além: ele sabe, conhece, tem convicção, através das revelações cabais e do raciocínio. Por falta de espiritualidade, de raciocínio, há os que crêem na existência do inferno, do céu, do perdão. Por isso, a situação espiritual do mundo é deplorável, por causa do raciocínio escasso. Os que crêem no perdão são os maiores responsáveis pela degradação moral que se observa, e podem, segundo pensam, praticar crimes, abusos e toda sorte de delitos, porque no fim o perdão lava tudo. Em tal cenário encontram-se os indivíduos que apenas crêem. Quando o raciocínio conduz a conclusões que desagradam, preferem não raciocinar.

O Racionalismo Cristão é doutrina que exalta a força do pensamento, o valor do critério, o poder do raciocínio. É seu lema raciocinar sempre, da melhor maneira possível. O raciocínio esclarece, ilumina, representa uma segunda visão. Não se deve restringir o conhecimento somente ao que se vê com os olhos físicos, mas ainda perceber o que a luz do raciocínio desvenda. Para isso se dispõe dessa faculdade, a fim de fazer-se bom uso dela.

Muito embora todos pensem que sabem raciocinar bem, a realidade é que muitos raciocinam mal, sem base e sem lógica; notam-se, nesses, a falta de profundidade nas suas argumentações e a fraqueza das suas conclusões. Para bem raciocinar, é preciso ter adquirido o tributo correspondente, que não se forma de um momento para outro. Em cada vida, em cada encarnação, há necessidade de esforço para acumular cabedal que o raciocínio precisa. Os que não procederem desse modo perdem um tempo precioso, que muita falta lhes vai fazer em futuro próximo, quando verificarem o que deixaram de conquistar nesta existência, com o fim de melhorar a sua capacidade de raciocínio. Substitua-se a crença inexpressiva pelo raciocínio lógico, concludente, assimilável, pois as recompensas dessas permutas se farão sentir.