29 de março de 2010

A espiritualização, além de evitar a degeneração moral, ainda conduz à regeneração espiritual revitalizando virtudes.

É neste mundo que o indivíduo se degenera quando faz mau uso do livre-arbítrio, e é também aqui que se regenera. A partícula inteligente, assim que ingressa no gênero humano, recebe o atributo do livre-arbítrio e o seu raciocínio está suficientemente desenvolvido para a prática do discernimento correlação ao correto e incorreto.

Enfrenta, logo no início do processo evolutivo as tentações do mundo, não sentindo nessa altura ainda atração por elas, mas, se experimenta e gosta, fica inclinado a prosseguir, absorvendo-as e impregnando-as no espírito. Vem então o hábito do uso e do abuso das formas tentadoras terrenas, que se vão multiplicando com o desabrochar dos tempos. Estabelece-se, então, o império dos vícios.

Impregnado de hábitos viciosos está o indivíduo em plena fase de degeneração, que não lhe traz bem-estar, alegria ou satisfação. Ao contrário, produz um estado de melancolia, desgosto, angústia, pois o ser procura, ansiosamente, desde os primórdios, a suposta felicidade; ele sente que ela existe e quer alcançá-la no encalço dos pendores dos vícios. Passa, então, ao processo de regeneração.

A espiritualização, além de evitar a degeneração, ainda conduz à regeneração. Por aí se vê a importância, a imprescindibilidade do esclarecimento espiritual e das práticas espiritualistas. Os vícios podem adquirir-se rapidamente e com facilidade, mas a recuperação da virtude é lenta e difícil. O rolar para o fundo deste poço e encher-se de equimoses é obra de um instante, mas recuperar a posição perdida, galgando o topo do aclive, é tarefa árdua, muito mais demorada, e exige grande esforço.

Milhares de espíritos reencarnam, diariamente, na Terra, com o fim de regenerar-se, por haverem verificado, nos seus mundos, o seu verdadeiro estado psíquico e se certificado de que a reencarnação é o único caminho a seguir. A Terra é o cadinho regenerador. Aqui se acham classificadas e ordenadas todas as formas de sofrimento e as mais variadas experiências, capazes de quebrar as resistências dos mais inflexíveis delinqüentes.

O mundo está cheio de ladrões, de assassinos, de criminosos de toda espécie, que irão desencarnar, para reencarnarem depois. O trabalho astral é feito no sentido de que esses infelizes conspurcadores do próprio espírito possam encarnar num meio em que a regeneração se venha a processar.

Por vezes encontram-se lares sadios em que no meio da família está um ou mais desses espíritos criminosos, que se revelam rebeldes, de difícil educação, desatenciosos, indisciplinados, violentos, sem escrúpulos e de má índole. Esses dão grande trabalho, grande preocupação e desgosto, pela insensatez com que agem. Mas é preciso empregar todos os meios, sem desânimo, para trazê-los à razão. Traços tenebrosos assinalam o passado desses indivíduos.

Outra coisa não há a fazer senão encarar o problema com entendimento e fortaleza de espírito. Alguém teria de receber esse espírito para a regeneração, e os escolhidos para a tarefa não se podem recusar ao que lhes foi imposto. Qualquer razão havia para isso. Podem os preceptores não conseguir grande coisa no sentido da remodelação, mas em não deixar aumentar os débitos e ainda que pouco façam em seu benefício, já representará uma ajuda para que na encarnação seguinte nova etapa possa ser vencida.

Todos os que estiverem no caminho do esclarecimento espiritual precisam convencer-se de que já deram muito trabalho a outros nas encarnações remotas, aos quais devem parte do seu progresso na senda espiritual, e que justo é que prestem o seu auxílio aos que lhes forem entregues no seio da família.

Não haverá um só que, precisando, não seja regenerado, embora leve inúmeros séculos, milênios até, mas o dia da regeneração chegará, porque não há perdição eterna nem sofrimento imorredouro. É uma questão de apertar as tenazes da dor — e elas são apertadas — para abreviar o curso. Ocorrerá neste interregno situações de grande infortúnio, para que, ao cabo de certo tempo, o ser aparentemente irredutível comece a raciocinar com acerto e a ceder em seu favor.

A degeneração é um mal psíquico, intolerável, que deve, portanto, ser destruído com o sofrimento regenerador. Somente na Terra se encontram os elementos capazes de produzir esse sofrimento ardente e higienizador. Nos planos astrais não há condição para isso. Diante dessa necessidade é que se trabalha espiritualmente, não só no Espaço como no Planeta, por intermédio daqueles que são destacados para esse fim.

Com o aumento da população terráquea, tem crescido, de muito, o número daqueles que perturbam a harmonia do conjunto humano com as inferioridades dos seus espíritos. Os espiritualistas não se têm avolumado na mesma proporção, de modo que há um déficit acentuado na balança das compensações. Este fato obriga a um esforço maior, a uma diligência mais atenta por parte dos esclarecidos, para que os conhecimentos espirituais se alastrem e difundam em todas as camadas sociais.

O Racionalismo Cristão trabalha, intensamente, nesse sentido para romper as trevas da ignorância espiritual, responsável pelo caos em que se encontra mergulhada a maior parte da humanidade. Famílias em grande número integradas por elementos carentes de regeneração lutam com as maiores dificuldades para amenizar o problema, por falta de orientação espiritual. Muitas delas, por esse motivo, estão na contingência de se verem em falência moral, pela ausência quase completa de meios próprios. A verdadeira situação é reconhecida pelos que se acham providos da devida acuidade para analisar os fatos à luz da verdade espiritual.

Os milhões de seres humanos carentes de regeneração estarão de volta ao Planeta dentro de algum tempo, e precisarão de lares que os recebam, lares verdadeiramente cristãos, que possam lutar contra as suas deficiências morais e espirituais. Por certo falará neles a voz do egoísmo, da usurpação, da sensualidade com que se revelam presentemente, e, se não houver mão forte de criaturas estribadas no espiritualismo, o insucesso se tornará uma ameaça.

Cumpre àqueles que se adiantarem nos conhecimentos espiritualistas preparar-se para o futuro, enrijecendo a têmpera do caráter e da ação, para poderem triunfar nas novas tarefas que receberem. Enriquecer o patrimônio espiritual é necessidade imperiosa, para que não faltem recursos na hora da apuração dos reais valores. A hora de apuração é aquela em que os que estiverem aptos e disponíveis para o trabalho de regeneração prestem o seu concurso e dêem o melhor de si para o êxito dos propósitos. Muito trabalho irá acarretar essa multidão que anda por aí desejosa de locupletar-se seja lá do que for. Esses indivíduos estão com falhas de regeneração, agindo com cupidez, sem saberem que a colheita é obrigatória para o próprio autor. Veja-se como campeiam por toda parte a desonestidade, a falta de pudor, a indecência, o descaso pela virtude.

A degeneração moral transformou-se numa epidemia mundial, é imperioso que haja uma regeneração e remodelação de hábitos e costumes em prol do aprimoramento espiritual da sociedade humana.

Do Livro A Felicidade Existe