24 de março de 2010

Um dos mais belos ornamentos do espírito é a simplicidade; não a simplicidade forjada mas a cultivada naturalmente.

Um dos mais belos ornamentos do espírito é a simplicidade; não uma simplicidade estudada para causar efeito ou esconder a vaidade. A simplicidade tem de ser espontânea e natural, ou não é simplicidade. Acontece, porém, que quando ela se revela por essa forma espontânea e natural, já está a criatura situada num nível elevado de evolução, pois quanto mais evoluída estiver, tanto mais simples será.

A falta de simplicidade, ostensiva ou oculta, denuncia um estado de espíritos nada lisonjeiros, nada edificante, muito embora a encenação seja a mais tocante possível; almas tidas como piedosas, não raro deixam-se levar pela mística de recompensas celestiais e adotam uma representação no palco da vida, que leva à comoção muitas das pessoas inclinadas a proceder da mesma forma. A simplicidade que envolve esse cenário é aparente, e não real.

Para muita gente, ser piedoso é ser simples, e vice-versa, quando, na realidade, o “piedoso” é um ser imbuído da convicção enganosa de ter assegurada, pelos seus atos, a sua entrada triunfante no reino dos céus, após a morte, julgando haver conquistado no paraíso celeste a mais alta “distinção espiritual”.

O piedoso é assim um indivíduo que facilmente se envaidece, enchendo-se de pretensões falsas e até ingênuas. Geralmente quem se julgar distinguido para receber tão alto prêmio, tão privilegiada posição, só poderá ter simplicidade exteriormente, porque no fundo está convencido da sua superioridade sobre os demais; da glória de ser “eleito de Deus”, da ufania de se considerar um “escolhido do Senhor”. Longe desse aspecto, porém, está a realidade, porquanto a simplicidade não se cria da noite para o dia, nem se fica simples depois de ouvir um sermão; a simplicidade é formada no indivíduo, através de milênios, e se apura de encarnação em encarnação, no curso de milhares delas.

Todos deverão fazer o bem que puderem, de acordo com o merecimento de cada um e as circunstâncias que se apresentarem, sem desejar alcançar o epíteto “celestial” ou “piedoso”, pelo ilusório sentido que esses vocábulos contêm. Exemplos de verdadeira simplicidade dão-nos aqueles espíritos altamente evoluídos que encarnaram no planeta, não mais para se depurarem, mas para servir de guias, como Mestres para ajudarem a esclarecer os que aqui se acham. Moisés, Hermes, Buda, Confúcio, Krishna, Maomé e principalmente Jesus foram Mestres que encarnaram para ajudar a humanidade a evoluir. Neste século vinte, contou-se com a presença de Luiz de Mattos, não menos Mestre, que veio com a missão de implantar na Terra o Racionalismo Cristão.

A simplicidade nesses espíritos foi modelar, natural e espontânea, e será nela que se devem inspirar os estudiosos do espiritualismo, para a sua crescente renovação espiritual. A simplicidade não obriga ninguém a curvar-se ante os poderosos, nem humilhar-se diante de qualquer situação. Em primeiro lugar, porque os que se julgam poderosos, são meros manequins em uma eventual exibição, e só o fato de se julgarem poderosos e pretenderem dar testemunho disso prova a inferioridade espiritual que os anima. A próxima encarnação ensejar-lhes-á a lição adequada para a correção do mal. Em segundo lugar, porque todas as almas são da mesma essência, iguais perante ao Todo, e diante dessa verdade, não cabem atitudes de humilhação.

Se alguém precisar de humilhar-se, deverá ser diante de si mesmo, de sua própria consciência, face aos erros cometidos, que realmente inferiorizam. Ninguém deve cometer a imprudência de humilhar o seu semelhante na sua dignidade pessoal, para feri-lo, de algum modo. A simplicidade não admite atos que contrariem a ética espiritualista, de que faz parte.

A criatura simples não disputa lugares que não lhe devam pertencer ou para os quais não está preparada, não se impõe, pretensiosamente, não faz prevalecer a sua opinião pessoal sem respeitar a do seu semelhante, acata o ponto de vista alheio, examinando as circunstâncias que o determinam. A simplicidade é coerente, tolerante, moderada, prudente, comedida e respeitadora. Há pessoas que pensam que ser simples é andar com roupa amarrotada e de má, qualidade, com sapatos descambados, de pijama na rua, de cabelo revolto, completamente descuidadas. Ao contrário, a simplicidade pede limpeza, esmero, decência e apuro.

O Mestre Nazareno, exemplo de simplicidade, usava túnicas sem costura, que eram as de melhor qualidade. Assim, os que trajam roupas de boa qualidade, podem, ao mesmo tempo, apresentar-se com discreta simplicidade. A simplicidade exclui o supérfluo, o aparato, a ostentação e o luxo, para só prevalecer a utilidade, na sua forma simples e indispensável.

A simplicidade elimina qualquer apreensão do ser quanto ao que possa, porventura, faltarlhe, porque, como está aliada à espiritualidade, não se cerca de ambições escravizadoras. Ela é um estado de alma perfeitamente configurado, em que a criatura vive sob a influência de satisfações que estão acima das que o mundo concede.

Não obstante a peculiaridade exposta, a simplicidade incentiva o progresso, estimula a iniciativa, almeja o estabelecimento de uma vida simples para todos e contenta-se com o que tem. Todos caminham para a simplicidade, embora desconheçam muitos que esse é o rumo traçado, ao qual ninguém poderá esquivar-se, a não ser passageiramente.