5 de março de 2010

Uma introspecção inerente ao aprimoramento do atributo denominado caráter.

O caráter do ser humano é representado pela soma das suas qualidades morais, em que se destacam as virtudes e o conjunto de valores espirituais conquistados paulatinamente no decorrer de múltiplas existências. Esse valioso atributo expressa o nível de espiritualidade da pessoa, que pode ser aferido pela firmeza e retidão com que procede em seus atos cotidianos.

Mais do que pela honestidade da conduta nas transações comerciais ou no exercício de qualquer função, o caráter se revela pela intransigente repulsa à covardia, à intriga, à inveja, às atitudes dúbias, à prevaricação, à deslealdade, aos movimentos traiçoeiros, enfim, a todas as ações indignas.

Nem sempre o indivíduo culto possui o melhor caráter, pois alguns deles fazem da cultura um instrumento de esperteza. Não se pode negar, entretanto, a vantagem, e mais do que a vantagem, a necessidade da instrução e da cultura, por oferecerem uma larga contribuição ao desenvolvimento da inteligência e da capacidade de raciocinar – meio pelo qual a pessoa analisa, confronta, deduz e conclui, para poder chegar aos melhores resultados.

Em qualquer setor da atividade – e não apenas nas lides literárias e científicas – o ser humano pode exercitar-se no desenvolvimento da inteligência: na indústria, no comércio, na agricultura, nas escolas, no lar. Qualquer ambiente de trabalho honrado lhe oferece constantes oportunidades para o aprimoramento do caráter, sempre obedecendo a uma progressão normal em que não cabem transformações radicais nem regenerações sumárias. Jamais, entretanto, se poderá operar sem esforço, boa vontade e, acima de tudo, sem a consciência esclarecida, aliada à noção do dever e ao interesse em cumpri-lo.

O caráter constitui-se em um dos mais ricos e preciosos bens do espírito. A sua conquista, porém, não é fácil. Ao contrário, requer prolongados períodos de meditação em numerosas existências, ao longo das quais as observações e conclusões vão amadurecendo sob a árdua prova da experiência.

Só depois de incontáveis desenganos e de sofrer muitas injustiças e ingratidões é que a pessoa mede, no íntimo da sua natureza espiritual, a extensão das imperfeições humanas contra as quais passa a se insurgir. Assim, de repugnância em repugnância às mazelas morais, ela vai-se libertando das ações inferiores para colocar-se, por convicção haurida do esclarecimento, nas linhas rígidas de uma conduta modelar.

Assim sendo, pais e professores que estiverem em condições de transmitir a filhos e discípulos – no tocante à retidão do caráter – a linguagem viva e altissonante do exemplo exercerão sobre eles excepcional influência, que se traduzirá em confiança, respeito e admiração.

Não há exagero na afirmação de que o mundo carece, cada vez mais, de pais e professores competentes e responsáveis, pois os que o são possuem nas mãos prodigiosos instrumentos de lapidação, com os quais muito contribuem para o aperfeiçoamento do caráter dos que estão aos seus cuidados.

A tarefa do professor não se deve limitar à instrução pedagógica dos alunos. A escola, por complementar o lar, impõe aos mestres o irrecusável dever de levar conceitos remodeladores aos discípulos, capazes de torná-los bons cidadãos.

Se a ação dos professores é altamente meritória no aperfeiçoamento do caráter dos discentes, de maior relevo é, ainda, a dos pais, a quem compete o inescusável dever de observar as linhas gerais do caráter dos filhos, quando pequeninos, por ser essa a fase em que a correção oferece melhores resultados.

O critério, a equidade, o bom senso, a pontualidade, a lealdade, a harmonia, a coragem, a retidão, o bom humor, a dignidade, a gratidão, a polidez, a fidelidade, o comedimento, a veracidade, o respeito próprio e pelo semelhante, bem como o zelo são virtudes que moldam e enriquecem o caráter, para as quais se volta o ser humano desejoso de conquistá-las.

Na definição das linhas do caráter, todos deverão considerar o meio-termo, a posição equidistante dos extremos, em que o equilíbrio se estabelece e refulgem as qualidades, os ideais construtivos, que engrandecem o espírito, fazendo-o crescer na escala ascendente da evolução.

O medo e a temeridade são dois extremos, em cujo ponto médio está a coragem – virtude componente da fisionomia do caráter. Ainda em posições extremas situam-se o perdulário e o avarento, mas o comedido fica no centro, que representa a posição ideal para os seres de caráter bem formado.

Também a malquerença e a adoração localizam-se em pontos extremos, mas a amizade e a virtude têm lugar destacado no centro. Tanto a malquerença como a adoração criam situações condenáveis: enquanto a malquerença desperta o sentimento de aversão, de ódio e vingança, com os mais perniciosos efeitos para o agente, a adoração conduz ao temor, à humildade subserviente e subalterna, à subjugação das iniciativas, à alienação da vontade, à falta de confiança do indivíduo em si mesmo, sempre em desprestígio pessoal e em flagrante anulação do seu próprio valor. Em ambos os sentimentos, aqui apenas citados como exemplo, a evolução se retarda.

Trabalhar para aperfeiçoar, cada vez mais, o caráter, um grande e incomparável atributo, significa gerar riqueza espiritual de inexcedível valor. Os bens materiais, já se fez ver, ficam na Terra. Os espirituais, não. Estes nunca se separam de quem os sabe acumular. E a melhor fortuna a que o ser humano pode aspirar é a que se forma através de ações nobilitantes que refletem sempre a grandeza do caráter.