12 de março de 2010

Um depoimento concernente ao consolidador do Racionalismo Cristão, através de seu Presidente Internacional

Já com quase 90 anos de idade, ele nunca se escusava a relembrar as doces palavras de sua mãe querida, que ficaram gravadas em sua mente e que serviram de grande incentivo para refrear os ímpetos naturais próprios da época da mocidade.

Chegando ao brasil, aquele menino, ainda imberbe, de imediato começa a sua grande luta. De início, por volta de 1905, passando por terríveis privações, sem dinheiro para fixar residência, dormia ao relento ou em bancos de trens. Pouco depois, conseguia emprego num estabelecimento comercial na Rua do Catete, que na época se denominava no comércio varejista, "Armazém de Secos e Molhados".

Para bem ilustrar essa fase de sua vida, vamos focalizar uma demonstração do grande caráter que já se delineava nas atitudes daquele rapazinho. Em suas atividades no armazém onde se empregara, era o primeiro a abrir as portas do estabelecimento e o último a fechá-las. Quando as abria, perfilava-se e se concentrava mentalmente, desejando ardentemente um bom dia de negócios para seu patrão!

Que exemplo admirável de grandeza de caráter, que nos dias atuais torna-se quase inexistente por imposição de uma época profundamente materialista e repugnantemente egoísta!

Ainda muito jovem, no final da 1ª Grande Guerra Mundial, em 1917, já derramava bondade de sua alma altruísta, conforme constatamos mediante pesquisa em seus arquivos pessoais, contribuindo várias vezes com uma organização da época denominada Grande Comissão Portuguesa Pró Pátria, em beneficio dos órfãos dos soldados portugueses mortos na guerra.

A vida desse valoroso rapazinho prosseguia vitoriosa. Impunha-se à admiração de seus patrões pela verticalidade de suas atitudes, pela honestidade, pela honradez, pela capacidade e rapidez no desempenho de suas atividades laborativas.

Passando a outros empregos comerciais, veio a ser empregado de um honrado comerciante, sr. Joaquim Bernardino de Oliveira, que era pai do então jovem Emir Nunes de Oliveira, que se tornou, mais tarde, um dos seus maiores amigos. Imediatamente, Joaquim Bernardino de Oliveira vislumbrou um grande futuro para aquele rapazinho laborioso, esperto, inteligente e de raciocínio rápido. Em poucos anos ele passou de simples empregado a gerente, depois a interessado na casa comercial, e, finalmente, à condição de sócio. Daí em diante, começa a sua grande ascensão na vida comercial. Profundamente econômico e cauteloso, já detentor de um bom capital, estabelece-se no comércio varejista em armazém sito na Avenida 28 de setembro, 25, Vila Isabel, e mais tarde como atacadista na Rua do Acre, constituindo uma das grandes firmas da época, denominada Silva, Almeida & Cia. Ltda. Porém, com Joaquim Bernardino de Oliveira continuou a mais sólida das amizades, considerando o seu ex-patrão, e depois ex-sócio, como o seu benfeitor e segundo pai.

Comercialmente, ou seja, na vida material, Antonio do Nascimento Cottas já se achava plenamente realizado. Começa então a esboçar-se a fase mais grandiosa de sua vida. Por volta de 1918, encaminhado por um amigo, penetra, pela primeira vez, no recinto do Racionalismo Cristão, na Rua Jorge Rudge, 121, fundado, presidido e liderado pelo imortal Mestre Luiz de Mattos, codificador do Racionalismo Cristão. Esse grande mestre, profundamente perspicaz e conhecedor de gênero humano, numa primeira troca de olhares com Antonio Cottas, percorrendo, com seu olhar agudo e penetrante, aquele jovem impetuoso e de fisionomia enérgica, imediatamente sentiu a intuição de que se achava diante de elemento promissor. Daí em diante, a sua ascensão no Racionalismo Cristão foi meteórica. Passou a diretor, depois a vice-presidente e finalmente sucessor de Luiz de Mattos, na condição de presidente perpétuo.

Mais tarde, quando já era considerado o sucessor de Luiz de Mattos, casou-se com a filha deste, a inolvidável Maria Julia de Mattos, que passou a assinar Maria Julia de Mattos Nascimento Cottas.

Poucos anos depois, em 15 de janeiro de 1926, desencarna o grande Mestre. E a sua admirável obra ainda carece de uma consolidação, ficaria sem timoneiro? É evidente que não! Ali estava Antonio do Nascimento Cottas, com seu temperamento obstinado, indomável, com a energia de seu espírito e a fortaleza de um organismo privilegiado.

Com Maria Cottas, sua esposa e filha de Luiz de Mattos, constituiu o casal ideal para, através de grandes lutas, levar avante a obra do Mestre.

Altamente conscientizado da sua relevante missão, ele então inicia a monumental obra de consolidação do Racionalismo Cristão.

Nos primeiros anos, após o falecimento de Luiz de Mattos, ainda se achava preso às suas atividades no comércio atacadista, sendo obrigado a dividir o tempo entre a vida material e as obrigações na doutrina espiritualista que abraçou. Na grande recessão econômica de 1929/30, sua firma comercial, sofrendo os reflexos dessa crise, dissolve-se, em caráter definitivo. A partir de então, Nascimento Cottas fica totalmente liberto dos afazeres profissionais, passando a usufruir de tempo integral para se dedicar de corpo e alma à obra do Mestre querido.

Através de sua luta titânica, ele já tem o seu nome indelevelmente gravado nas páginas gloriosas da história do Racionalismo Cristão como o seu Grande Consolidador.

Nessa tumultuada luta pela consolidação, em meio a alguns traidores, ele teve amigos extraordinários, cuja citação nome por nome consumiria muito espaço neste jornal, mas dentre os que mais se destacaram, poderíamos citar: dr. Emir Nunes de Oliveira, Roberto Dias Lopes, Henrique Ribeiro Bastos, Manoel Luiz Garcia, Orlando José da Cruz, Ezequiel Novaes Vieira de Castro, Francisco Pereira Torres...

Aumentou o número de Filiais e Correspondentes do Racionalismo Cristão, que passou de meia dúzia para mais de uma centena no Brasil e também no estrangeiro.

Além de fundar inúmeras casas racionalistas cristãs, inaugurou, em 20 de outubro de 1956, o novo e portentoso edifício da sede do Racionalismo Cristão, na Rua Jorge Rudge, 119.

Multiplicou muitas vezes o patrimônio da instituição.

Os livros editados foram sensivelmente aumentados e suas edições melhoradas e revisadas.

A ação benfazeja de sua alma luminosa sobre o Racionalismo Cristão derramou-se por mais de meio século.

Além de suas obrigações espiritualistas, ainda encontrava tempo para dedicar-se a atividades no seio da Comunidade Luso-Brasileira, onde teve a felicidade de conquistar grandes amizades, tornando-se uma das figuras exponenciais nos meios lusitanos do Brasil, através de instituições de alto gabarito cultural e filantrópico, tais como o Real Gabinete Português de Leitura, Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras, Beneficência Portuguesa e muitas outras.

Recebeu inúmeras medalhas e condecorações, tornando-se, então, o Comendador Antonio Cottas. Das inúmeras homenagens prestadas, uma das que mais o comoveram foi a outorga do título de Cidadão Carioca. Ele que amava tanto o Brasil quanto a sua Pátria de origem, Portugal, e que ser o brasileiro naturalizado, sentiu-se obviamente gratificado com um título da Cidade do Rio de Janeiro, local onde exerceu suas lutas e colheu suas vitórias.

O autor destas linhas, embora sendo seu sobrinho, sempre se considerou como filho. Encaramo-lo, pois, mais como pai do que tio. Educou e forjou nosso caráter através de suas atitudes calcadas numa energia austera e rígida, custeou nossos estudos desde os cursos primário, secundário até ao universitário, na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.

Isso ele fazia, não só conosco, mas com todos os sobrinhos. Tinha quatro irmãs e um irmão, e deles cuidou como se fossem seus próprios filhos, criando-os e orientando-os com os exemplos de irmão mais velho.

Juntamente com sua esposa, nossa querida tia e segunda mãe, Maria Cottas, esteve sempre presente nos momentos importantes de nossa vida: em nosso nascimento, em nossa colação de grau, em nosso casamento e no nascimento de nosso filho.

Mas de toda a sua obra, a mais monumental foi, sem duvida, a grandiosa consolidação do Racionalismo Cristão. Essa obra teria que ser consolidada com mão de ferro. E assim foi feito. A energia rígida e férrea de sua personalidade tornaram-no o homem certo para o momento certo.

Além do feito altamente meritório concernente a essa consolidação, não podemos deixar de destacar a sua última grande realização, que foi a fundação do Solar Luiz de Mattos, por ele inaugurado no dia 27 de setembro de 1980, no edifício onde se achava instalada anteriormente a sede do Racionalismo Cristão, na Rua Jorge Rudge, 121, cumprindo, assim, o seu grande ideal altruísta de proporcionar abrigo aos cidadãos em idade provecta e carentes de amparo familiar.

Obstinado, sagaz, persistente, cauteloso, estóico, resistência incrível ao cansaço, honrado, honesto, dedicado, idealista, amigo incondicional de seus amigos! O que mais podemos dizer de Antonio Cottas? Para falarmos de sua personalidade, sua vida e sua obra, em todos os detalhes, teríamos que consumir um volumoso livro.

Todavia, podemos deixar patenteado nestas linhas que a obra de Antonio Cottas está gravada no Racionalismo Cristão para conhecimento da posteridade e para veneração das gerações vindouras através dos séculos.

Antonio Cottas, finalizando este panegírico, cumpre-nos enfatizar, para honra e tranqüilidade do teu espírito, que não serão poupados esforços a fim de que o sacrifício da tua vida de renúncias não tenha sido em vão!

O Autor é Presidente Internacional do Racionalismo Cristão, Dr. Humberto Machado Rodrigues