12 de março de 2010

A justiça está sempre do lado da razão, muito embora na Terra, pela imperfeição humana, nem sempre esses dois atributos andem juntos.

A justiça está sempre do lado da razão, muito embora na Terra, pela imperfeição humana, nem sempre esses dois atributos andem juntos. A imperfeição, porém, é temporária, ao passo que a perfeição habita os domínios da eternidade. Desse modo, a justiça e a razão pairam acima do que é efêmero ou passageiro, para projetar-se no campo eterno das fórmulas imperecíveis.

Todos querem ter razão, mas o que acontece é que nela interfere o interesse pessoal, que leva o indivíduo a forjar argumentos ditados pelo intelecto para sustentá-la, com ou sem ela. A dificuldade está em a criatura poder ou saber colocar-se em plano elevado para apreciar daí, com isenção de ânimo e com justiça, os fundamentos da razão. Aqueles que estiverem em condições psíquicas de se impor por essa norma, mesmo contra os próprios interesses, podem estar certos de que possuem respeitável acervo espiritual.

A função dos juízes é dar razão a quem tem. Espinhosa tarefa porque, para bem desincumbir-se dela, é indispensável que possua aquele citado acervo, adquirido, por acumulação, no exercício do ofício, em numerosas encarnações.

A capacidade de vislumbrar a razão é inata no ser humano, e ela só não tem forma mais substanciosa na vida terrena em conseqüência das deformações do caráter. O raciocínio lúcido e bem trabalhado, o ato perquiridor e a intenção sadia constituem um poder penetrante na área da razão.

O mundo precisa de homens que saibam dar razão com o prestígio do seu valor espiritual, para que a justiça se faça e o bem se espalhe sobre a Terra. Cultivar, diariamente, o exercício da razão é um dever que a todos cabe e que tem de ser acatado e respeitado como uma das práticas cristãs do mais alto grau.

Não adianta ser cristão pro forma, só na palavra. Cristão é aquele que dá provas, por atos, da sua verdadeira condição de cristão, quando, entre outros predicados, se revela pelo uso da razão equilibrada, justa e enquadrada no bom senso. O indivíduo só pode fazer bom uso da razão quando tem controle sobre si mesmo, não se deixando perturbar. Ora, só se livram das perturbações aqueles que conhecem as influências do astral inferior sobre os seres encarnados. Os que não conhecem essa influência tornam-se, sem o saber, seus instrumentos dóceis, e quase imperceptivelmente agem fora da razão.

No astral inferior ninguém tem razão, porque é uma região do espaço onde reina a desordem moral, a indisciplina mental e a ignorância espiritual. Ali todos estão fora-da-lei, sem Luz Astral, afastados do cristianismo, em estado anormal. São esses seres que intuem os encarnados que ignoram como se processa a vida fora da matéria condensada, e assim conseguem, numerosas vezes, deitar por terra os bons intentos de quem deseja conservar a razão.

Fora do espiritualismo difundido pelo Racionalismo Cristão, não há processo mais adequado de o ser humano prevenir-se dos assaltos capciosos, violentos ou brandos, do astral inferior, a que, a todo e qualquer momento, está sujeita a humanidade. A falta de razão na defesa de qualquer idéia traz sofrimento e até tortura. Aquele que estiver sem razão situa-se numa posição falsa. Mesmo que consiga uma vantagem aparente e superficial sobre a razão, acabará perdendo, porque a razão se conserva em linha de equilíbrio, e todos os acontecimentos que se projetarem fora dessa linha voltam a ela ou nela se encaixam, em mais ou menos tempo.

É inútil querer burlar, trapacear, mistificar a razão, porque as condições da vida mudam ao passar o indivíduo do plano físico para o astral, e ali todas as falcatruas são descobertas, postas a nu e identificadas nos pormenores, ficando o faltoso na mais triste e desmoralizadora situação. Aí nada adiantarão as lágrimas de remorso e arrependimento, porque o mal já está feito e o único recurso é a dor por que virá a passar na Terra, em futuras provas de regeneração e recuperação.

No trato com a razão é onde muitos falseiam, escorregam e caem no erro, na enganosa suposição de que ficou oculto o ato, de que ninguém o viu, de que prevaleceu a ardilosa tapeação. Ingênua concepção essa. Todos os pensamentos, palavras e atos de qualquer um ficam registrados no éter, de forma indestrutível, e podem ser revistos e reexaminados, sempre que preciso for. Pode não se atingir a razão por deficiência pessoal, mas falseá-la ou deturpá-la é ato criminoso. O erro, conscientemente cometido, provém do fato de a criatura ignorar, na maioria dos casos, as conseqüências que dele decorrem.

Não se pode fazer uso das faculdades intelectuais desenvolvidas para torcer a razão. A inobservância deste cuidado pode redundar na obrigação de voltar à Terra o intelectual faltoso, sem poder fazer uso delas, por não se revelarem. Muitos intelectuais há por aí jungidos ao áspero labor terreno, braçal, ganhando o pão com o copioso suor do rosto, marcados pelo rude trabalho físico, por haverem feito, em vidas anteriores, mau uso de suas faculdades intelectuais desenvolvidas.

Ninguém escapa às leis coercitivas, imparciais, inflexíveis, indeformáveis, rigorosas, implacáveis e duras. O indivíduo que se colocar fora dessas leis naturais receberá golpes proporcionais ao desvio, sem apelação possível, desferidos com a insensibilidade própria das leis.

Este alerta aplica-se aos cuidados que devem ser tomados no uso da razão, de maneira que não se venha a prejudicar alguém pelo seu mau emprego, ou pelo descuido, pela indiferença, pela negligência, quanto ao seu trato.

Pelo mau uso da razão, feito consciente ou inconscientemente, grandes tormentas têm desabado, e os seres atingidos não têm sido poucos. As guerras não se verificariam se a razão prevalecesse nos entendimentos, diante dos quais teriam de curvar-se os responsáveis por elas.

A razão, como a verdade espiritual, é uma só, e não pode pertencer a dois partidos antagônicos. Quando se tem a razão como cúpula, debaixo dela se acomodam, cordial e harmoniosamente, todas as almas verdadeiramente esclarecidas.

É a falta de cristianismo, a ausência de espiritualidade, que têm conduzido os indivíduos e, conseqüentemente, as nações ao caos, ao infortúnio e ao flagelo da destruição. A razão é substância espiritual, é atributo da Inteligência Universal e, por isso, se reflete na estrutura espiritualista com o vigor da sua pujante essência. Cuide-se, pois, diligentemente da razão em todas as circunstâncias da vida terrena, pelo mérito da sua qualificação, por questão de formação moral e por desejar-se contribuir para a elevação espiritual do conjunto humano.

A razão inclui-se, com outras modalidades de cunho cristão, nas normas espiritualistas, onde tem posição de destaque na apuração dos valores morais. A estrutura do espírito recebe, com o reforço do exercício da razão, maior fortalecimento e melhores disposições para o trabalho nas atividades superiores. A razão é, assim, integrada no domínio do espírito, uma faculdade de elevação aos planos transcendentes da espiritualidade, onde ela se reúne aos gerais atributos da Força Criadora.