5 de maio de 2010

Viver pelos outros, viver em todos e em cada um, como sentimos os nossos semelhantes viverem em nós mesmos, eis o verdadeiro destino dos homens

Fazer o Bem sem olhar a quem, eis o ditado popular que constitui um dos mandamentos da Moral cristã e, portanto, daqueles que são bons.

Praticam a bondade todos aqueles que respeitando a si próprios, respeitam seus semelhantes.

Estas duas máximas são complemento uma da outra. As pessoas são boas e nascem boas em sua essência: a má educação e a luta pela sobrevivência, disputando muitas vezes as necessidades mais imediatas, é que levam muitos a tornarem-se maus, empregando a violência para realizarem seus desejos e ambições. Outras vezes, as criaturas afastam-se do caminho do Bem pela ambição, desenvolvida para a ganância de bens materiais, pela obtenção desmedida de riquezas, ou mesmo pela desenfreada luta pelo poder político, social ou religioso, colocando suas ambições acima do bem comum.

Quando praticada com extremo empenho e dedicação, a bondade pode assumir a forma de caridade, entendida como tal toda a forma de bondade que leva as pessoas a distribuírem bens materiais ou se dedicarem aos mais necessitados, aos que têm fome, aos miseráveis e até mesmo àqueles que tudo perderam em catástrofes e calamidades. Mas é preciso também saber que, em certos casos, a caridade pode retardar a reação do indivíduo que está passando por necessidades; por isso, a moderação pode ser a melhor virtude a nos aconselhar a não praticar a caridade em excesso. É bom notar que, quem pratica a bondade ou a caridade com o objetivo de obter prestígio ou alcançar aplausos da sociedade ou da mídia certamente não faz caridade, porque está tentando obter vantagens ou reconhecimento.

São de Benjamin Constant estas palavras: “Viver pelos outros, viver em todos e em cada um, como sentimos os nossos semelhantes viverem em nós mesmos, eis o verdadeiro destino dos homens” [MARTINS, s.d., p. 138].

Uma boa ação praticada com altruísmo, de forma pura, discreta, sem segundas intenções, produz um confortante prazer na criatura. É, possivelmente, a única ação que pode e deve ser feita às escondidas ou mesmo na calada da noite.

O Bem e a Bondade triunfarão sempre, embora temporariamente, o império do Mal possa parecer tomar-lhes a dianteira. Mas, o Mal logo tropeça em suas próprias armadilhas, nas dores e sofrimentos que causa, nos tormentos que cria e no remorso que cedo ou tarde advém de sua prática.

Tampouco nos devemos envergonhar de praticar o Bem por indicação alheia, pois assim abrimos nossos corações aos bons conselheiros.

Muitas são as formas de Bondade: ela é visível nas mães que aconselham os filhos, no transeunte que ajuda um deficiente físico a atravessar uma rua de muito trânsito, na professorinha que, com carinho e dedicação, ensina as primeiras letras a seus alunos e, em tantos e numerosos outros exemplos de nosso cotidiano.

A Bondade desarma os homens que, com sua agressividade, pretendem a ela se opor; se fosse levada a sério entre os homens, as nações e seus governantes muito diminuiria a desigualdade entre os povos e, as guerras, em curto prazo, desapareceriam da face da Terra.

Disse o Marquês de Maricá: “A bondade é sempre feliz e oportuna quando a prudência a dirige e a recomenda” [MARTINS, s.d., p. 148].

Parece haver uma retroalimentação na prática das boas ações, que consiste em induzir e estimular as pessoas a praticarem outras maiores e melhores. Este processo é uma avenida de duas direções que leva as pessoas boas a dividirem com os necessitados parte de sua vitalidade e sua boa fortuna. Sófocles, o antigo filósofo grego, já dizia: “A coisa mais bela consiste em ser útil ao próximo” [MARTINS, s.d., p. 151]. Ou, na palavra de Thoreau, “A mais nobre missão do ser humano é prestar ajuda ao seu semelhante por todos os meios ao seu alcance” [MARTINS, s.d., p. 151].

Os verdadeiros cristãos, aqueles que colocam o seu livre-arbítrio a serviço do Bem, nunca prejudicando ninguém, praticam a Bondade e trazem a paz consigo mesmos, no seu íntimo, em todas as ações de suas vidas.

Felizes os que semeiam o Bem!

Do Livro Reflexões Sobre os Sentimentos