5 de maio de 2010

O orgulho é um sentimento ambivalente, podendo ora ser negativo, ora positivo, dependendo da situação específica em que se insere.

O orgulho é um sentimento ambivalente, podendo ora ser negativo, ora positivo, dependendo da situação específica em que se insere. No primeiro caso, temos o amor-próprio ou auto-estima exacerbada, assumindo aspectos variados como os encontrados na presunção, na arrogância, na soberba e na empáfia. No segundo caso, esse complexo sentimento pode assumir as formas de dignidade pessoal, brio e altivez que são também conceitos exagerados de si mesmo. No desdobramento desse tema procuraremos abordar todas essas facetas do orgulho.

Em seus aspectos negativos o orgulho consiste na criatura se julgar acima de todas as outras, isto é, de considerar os seus semelhantes inferiores. Sua superioridade aparente é por ela usada como desprezo aos seus semelhantes, de quem zomba, olha de soslaio ou trata com indiferença e desdém. Nas pessoas mais cultas, que não conseguem se tornar infensas ao orgulho, este se transforma em arrogância e, consequentemente, elas acabam ofendendo os mais humildes, desprezando os seus valores. Trata-se aqui de uma séria deformação do caráter, já que possuindo conhecimentos, sendo cultas e inteligentes, poderiam, muito bem, dispensar de usar este sentimento tão desprezível no trato, no convívio com seus semelhantes. Assim, desprezando os outros e seus valores torna-se difícil aproximar-se deles e merecer a sua confiança. Seus méritos não conseguem sobrepor-se ao orgulho que termina por sobressair-se. Trata-se de um orgulho injustificado, que é grosseria e estupidez.

Os orgulhosos, ainda no seu sentido negativo, não conseguem cativar nem ser solidários com ninguém, porque é da sua própria natureza procurar se manter sempre intocáveis. Por isso mesmo, não se preocupam com ninguém. Sua maior preocupação, quando conseguem, é impor suas idéias e opiniões ao seu próximo. Procuram colocar a marca de seu orgulho nos gestos, na forma de vestir e, principalmente, na entonação da voz, quase sempre acompanhada com um acento de ironia e desdém. Normalmente, esta modalidade de orgulho está associada ao egoísmo. Veja o tema “O EgoÍsmo” em outra parte desta obra.

O orgulhoso não sabe respeitar a opinião e a liberdade alheia. Se puder constranger as pessoas, ele o faz de maneira acintosa e com muita empáfia. Usa a empáfia para “arrotar” grandeza. A convivência é difícil porque ele sempre se coloca acima dos outros. O orgulhoso exaspera-se com facilidade, é insensato, não tem largueza de espírito e é desprovido de qualquer resquício de humildade. No orgulhoso, a ingratidão é marcante. Veja o tema “A Gratidão” em outra parte desta obra.

Com relação ao relacionamento e ao convívio com o próximo, o orgulho se interpõe como uma barreira quase intransponível. Sabemos que o que mais afasta as criaturas entre si são os preconceitos, as suspeitas e as rixas. Lembre-se que com palavras duras e ásperas não se consegue nada e que a atitude soberba é a maior causa dos conflitos e das desavenças entre as pessoas. Portanto, é necessário sempre esforçar-se para não exagerar ou sobrevalorizar o seu amor-próprio ou auto-estima a ponto de se transformar em orgulho.

É importante não confundir orgulho com vaidade. O vaidoso procura sempre se comparar com outra pessoa; já o orgulhoso jamais se compara porque ele se coloca sempre acima dos outros, que julga serem inferiores e têm o dever de lhe servir. O orgulhoso tem méritos, o vaidoso não. Veja, nesta obra, o tema “A Vaidade”. Esta diferença é apresentada ali com uma argumentação mais ampla. É do Marquês de Maricá esta frase: “O orgulho é próprio dos homens, a vaidade das mulheres” [PÂNDU, 1962, p. 176].

Com relação ao aspecto positivo do orgulho, menos freqüente que o negativo, teceremos algumas considerações. Jovens e adultos que, através de seu esforço próprio, lutam e vencem concursos e competições, coroando centenas e até milhares de horas de estudo ou de esforço físico dedicado aos esportes com empenho e garra, sentem um tipo de orgulho gratificante, do mesmo modo que seus pais e familiares. É costume ouvir um pai dizer “meu filho é o orgulho da família”, para demonstrar o prazer que sente por ter, quem sabe, pelo menos um filho que se destacou. Nos esportes, os fãs e torcidas organizadas têm orgulho das vitórias de seu time e de seus ídolos. Há mulheres que sentem orgulho de seus maridos e vice-versa.

A altivez parece, também, ser uma forma positiva do orgulho, porque mais ciosa de si a criatura não utiliza a arrogância para se impor, mas faz uso de seus méritos de forma mais natural, sem agredir aqueles a quem deve causar admiração.

A proeminência encontrada nos homens muito cultos e sábios de todo o mundo é admirada por todos, desde que não venha envolvida pela soberba. É do Padre Antonio Vieira esta frase: “Lograr proeminência e não ser soberbo é comedimento tão raro, que nem o primeiro anjo o teve no céu, nem o primeiro homem no paraíso” [PÂNDU, 1962, p. 176]. Aqui fica claro que a virtude está no meio, no equilíbrio, sem pender para nenhum extremo, mantendo o amor-próprio sob um desejado e útil controle.