4 de maio de 2010

Felicidade é reconhecer em sua essência espiritual a emanação de contentamento dignificando cada momento de sua vida.

A felicidade é um sentimento nobre e positivo em que a criatura se sente contente e realizada, satisfeita consigo mesma, que entende e aceita os encargos da vida com satisfação e naturalidade. Ser feliz é cumprir os seus deveres com prazer e satisfação, sabendo dar à vida a sua verdadeira dimensão e, portanto, estar de bem com a vida. Ser feliz é reconhecer a sua essência espiritual e vibrar de alegria e contentamento, valorizando e dignificando todos os grandes atributos do espírito em cada momento de sua vida. A felicidade é, portanto, um processo de crescimento e evolução espiritual duradouro, permanente e que consiste em eliminar ou pelo menos lutar e tentar afastar as frustrações de seu caminho. Não é fácil ser feliz, mas é possível, como veremos no desdobrar deste tema.

Na prática, a felicidade resulta da forma como nós construímos nossa auto-estima ou amor-próprio. Veja o tema “O amor-prÓprio” em outra parte desta obra. A auto-estima é uma imagem de nós mesmos, que criamos mentalmente para caracterizar nossa personalidade, nossa maneira de ser e agir. É a maneira como nos vemos e sentimos no contexto entre as demais criaturas, nossos semelhantes. É a maneira como nos identificamos perante o próximo e perante nós mesmos. Apagar essa imagem leva à decepção e, por um momento, sentimo-nos deprimidos e frustrados. Com o tempo, com nossas vivências ou experiências da vida, vamos aprendendo a redirecionar nossas energias para um caminho mais realista, vamos crescendo espiritualmente e ganhando confiança em nós mesmos. Este é um processo permanente de realização espiritual e adaptação à realidade material.

Nessa realidade em que a criatura se insere, a pessoa é avaliada segundo três pontos de vista: no seu próprio ponto de vista ela é o que pensa ser; na ótica de seus semelhantes, ela é o que os outros pensam dela; e, na verdadeira essência, ela é o que é, o que deve ser de fato, um espírito encarnado em evolução. Daí resulta toda uma necessidade de adaptação à realidade para não ter que viver atrelada às ilusões e frustrações, e disso tudo extrair a alegria de viver e ser feliz. A felicidade só será possível, então, mediante esse entendimento, essa sabedoria que reside na aceitação de que não somos perfeitos e temos que evoluir para a perfeição. E, como não há evolução sem dores e sofrimentos, compete a cada um esforçar-se para, pelo menos, obter paz e serenidade, e conseguir viver com uma felicidade relativa, já que a felicidade absoluta não é possível neste mundo, porque não há desprendimento nem desapego às coisas e valores materiais nos quais se fixam ilusoriamente os interesses humanos. Pelo fato de a felicidade não admitir comparações, cada um a tem ou a terá no exato limite de sua sabedoria de vida. Não existe felicidade sem espiritualização do ser. Por isso mesmo, não se deve confundir felicidade com lazer ou prazer, do mesmo modo que não se deve confundir sabedoria com conhecimento ou cultura.

Foi dito, linhas atrás, que a felicidade é um processo de realização espiritual e de adaptação à realidade material. Sendo um processo, ela tem uma duração — princípio, meio e fim. Para que ela ocorra, é preciso afastar toda a frustração e não buscar nenhuma finalidade, nenhum significado especial, a não ser o de procurar sentir o estado de graça que ela proporciona à criatura, uma paz interior muito grande e uma serenidade inexcedível. Mas, a felicidade não é permanente, é efêmera, passageira. Logo vêm os novos problemas que nos tomam toda a atenção e novos cuidados são necessários para enfrentá-los e resolvê-los. Então, caímos de novo na realidade da vida terrena.

Sem teorizar muito, vamos passar aos aspectos práticos que, dominados pela criatura, poderão fazê-la feliz, embora gozando de uma felicidade relativa. Vamos desdobrar esses aspectos ou pré-requisitos em dez atitudes para a felicidade, sem maior preocupação de manter uma linha divisória entre elas. A palavra atitude é usada aqui com o significado de um esforço interior da criatura para criar seu próprio ambiente de felicidade.

Do Livro Reflexões Sobre os Sentimentos