30 de abril de 2010

Os deveres humanos são intransferíveis, pois o espírito encarna neste mundo para servir e não para ser servido.

Os espíritos encarnados neste mundo encontram-se investidos de deveres intransferíveis; cada qual tem o seu com a finalidade de servir‑lhe de aperfeiçoamento espiritual. Na maioria das vezes não são os deveres agradáveis de cumprir, pois podem ser sumamente pesados, difíceis, estafantes, que exijam uma dose forte de sacrifício, de renúncia e de resignação.

Compenetre‑se, porém, o ser humano de que eles não foram traçados para agradar, mas para amoldar o ser a determinadas injunções da vida, para lapidar o caráter, para desenvolver o senso da responsabilidade, para ensinar a direcionar a própria existência, a lidar com o próximo de temperamento desigual, para trabalhar o raciocínio, para aceitar a vida com ela é, e para cada um saber tirar do dever imposto o devido desenvolvimento.

Pode‑se considerar a humanidade dividida, economicamente, em três classes, a pobre, a média ou remediada, e a rica.

Na classe pobre, impera, quase sempre, o trabalho manual ou braçal, mais ou menos rude, que exige energia física, renúncia de conforto e severo controle da economia privada. Os deveres que se impõem a esta classe, perfeitamente definidos, como nas demais, asseguram a especialização dos ofícios, na sua grande variedade, habilitam os seres a praticar o socorro mútuo, pela ação direta, tornando‑se responsáveis pelo suprimento das utilidades, inclusive os produtos alimentícios, ao consumo comum, e entre os consumidores se incluem todas as classes: pobre, média e rica.

A classe pobre suporta, em regra geral, o rigor da carência, às vezes com estoicismo, outras com exemplos de resignação. Poucos são os infelizes que se revoltam com a natureza humilde dos deveres, e procuram, em vão, sacudir o jugo das limitações a que estão sujeitos.

Evidentemente é uma classe indispensável à vida, tanto quanto as outras, e por essa indispensabilidade, forçoso se toma que os seus representantes tenham paciência nos seus postos, pois se neles bem cumprirem os seus deveres, na volta à Terra terão oportunidades muito melhores.

O fato importante a registrar são as proveitosas lições recebidas nessa classe. Assim, os que nela trabalham, estão empregando muito bem o seu tempo e preparando‑se para novos empreendimentos futuros. Nem todos os seus componentes são pessoas que se estão iniciando na vida espiritual; muitos são espíritos que já fizeram as suas incursões pelas outras classes, mas que tiveram de voltar a ela pelo mau uso feito do livre arbítrio. Para estes, a adaptação ao meio já é mais penosa.

Com respeito à classe média, vale dizer que os seus integrantes sustentam também as suas fases delicadas. Precisam, muitas vezes, participar da vida em meio abastado, com a obrigação de exercer misteres próprios da gente pobre. Os recursos são quase sempre escassos, em face do preço das aparências. As donas de casa são as mais sacrificadas em seu meio, pois os afazeres domésticos, na realidade, as obrigam, por serem almas mais polidas do que as da classe anterior, a uma abnegação excepcional, para agüentarem a rudeza do labor.

Dispondo, comumente, de corpos físicos mais delicados, comparativamente, têm de suportar uma carga de serviço que pode parecer superior às forças em reserva. Neste ambiente dão‑se muitos desastres morais, pela falta de compreensão e espiritualidade. Vencem aquelas criaturas que trouxeram valioso acervo de lutas anteriores e possuem a alma curtida pelas experiências passadas, muitas vezes repetidas.

A vida nesta classe oferece perigos maiores do que na primeira enunciada, por ser onde se marca passo, até por centenas de encarnações. Aí se encontra o maior número de pessoas revoltadas, inconformadas e desajustadas. As folganças na vida da classe rica são objeto de aspiração dessa classe que, não estando espiritualmente preparada para compreender a realidade dos fatos, exaspera-se, comete desatinos e perturba‑se. No entanto, muitos há que compreendem a situação pelo aspecto da vida espiritual, e seguem os seus caminhos, serenamente, na certeza de darem por bem aproveitado o tempo aplicado nos deveres que lhes tocam.

Na classe dos ricos se encontram aqueles que, em maior proporção, estão acumulando débitos. Andam pelo terreno das futilidades. Pagam a servidores para não trabalhar. O dinheiro cobre todas as necessidades. Os deveres ficam para os outros. O ambiente de luxúria é o que predomina. Gastos supérfluos são feitos a todo momento. O desperdício é hábito rotineiro. A desgraça alheia fica muito distante. Exercitam a falsa caridade e os atos chamados piedosos se misturam com as pompas sociais.

A vaidade, o orgulho, a presunção, a ostentação de grandezas, a arrogância, o enfatuamento, são, ordinariamente, os alimentos viciosos do espírito. A maioria deles, na volta à Terra, irá para a classe dos pobres. O dinheiro é o veículo mais apropriado para o indivíduo pôr à mostra uma série de defeitos morais; com dinheiro farto, ele dificilmente se contém; dá expansão franca e plena aos seus instintos, às suas ânsias insatisfeitas, à sua grande e falsa oportunidade. Então farta‑se de semear o joio, sem se preocupar com a colheita.

Nem todos, porém, se perderam nesse caminho ilusório, visto que pela sensibilidade espiritualista, têm consciência da Vida e procedem como criaturas seguras da sua posição.

Muitos outros penetram nessa classe provindos das outras duas por processos ilegítimos baseados na usurpação, no assalto, na especulação desonesta. Estes são autênticas vítimas de si mesmos, cabendo‑lhes devolver em dobro tudo quanto subtraíram dolorosamente ao seu semelhante.

Do Livro Ao Encontro de Uma Nova Era