27 de abril de 2010

A ternura é um sentimento tão envolvente que normalmente ela é devolvida, no mesmo instante, dada a sua natural reciprocidade.

A ternura é um sentimento altamente positivo. Ela está diretamente associada com os sentimentos de amizade, amor e fraternidade. Ternura é amor, carinho, meiguice, afago, compreensão e compaixão no trato com o próximo, sentimento que se traduz numa espécie de conluio, cumplicidade e intimidade entre criaturas. Sua força provém da pureza dos sentimentos, da franqueza e da sinceridade com que uma criatura se comunica com outra, não apenas por palavras, mas também, com gestos delicados, olhares cálidos, toques de mãos, afagos de solidariedade e de amor. Pela ternura nós nos tornamos íntimos de outra pessoa. Ter ternura é envolver-se carinhosamente com outras pessoas. A ternura é um sentimento tão envolvente que normalmente ela é devolvida, no mesmo instante, dada a sua natural reciprocidade.

Ninguém é uma ilha, está isolado ou sozinho no mundo. Toda pessoa gosta de ser observada, apreciada, de saber que seus dons são realçados e admirados e, também, gosta de provocar desejos e sentimentos de amor, de amizade e de fraternidade. A intimidade, que decorre naturalmente da ternura, é a chave de ouro que abre corações, e predispõe a criatura às confidências e à entrega.

Há muita ternura nas juras de amor, desde que firmadas na sinceridade de propósitos e de sentimentos puros, não egoísticos. Há ternura na mãe que amamenta seu filho, que acode prontamente quando este acorda e chora por qualquer motivo. Vêmo-la na zelosa enfermeira que cuida com todo o carinho de pacientes terminais em enfermarias e hospitais de todo o mundo. Há ternura no sorriso inocente e nas risadas cristalinas das crianças.

Ter ternura por alguém é compartilhar quase tudo do que é seu com outra pessoa, trocando confidências, caprichos, sucessos, fracassos, tormentos e conflitos, sem haver segredo entre elas. É o sentimento de ternura, muito profundo no amor, que leva duas criaturas a se entregarem uma à outra pela confiança mútua e pela empatia que irradiam entre elas. Há uma admiração das qualidades de modo afetuoso e romântico. Cada uma tem que se sentir à vontade, desinibida, responsável para que haja ternura, para que possam falar com franqueza de suas preocupações, sem condenações, sem censura, sem críticas, mas com compreensão e aceitação completa.

Duas pessoas são meigas entre si não porque uma preenche e satisfaz as necessidades da outra, mas sim, porque vibram com as mesmas idéias, pactuam com os mesmos sentimentos, sentem prazer em estar juntas, partilham dos mesmos gostos, apreciam as mesmas iguarias, assistem aos mesmos espetáculos, enfim, porque existe uma identificação de pensamentos, sentimentos e propósitos compartilhados.

A ternura pede sinceridade e confiança; sem estas, não há ternura, ela não se consuma. É importante que se observe que pregar a igualdade é uma coisa, praticá-la é outra e isso faz uma grande diferença no relacionamento entre duas criaturas, principalmente no amor. Se houver uma tendência, ainda que pequena, por parte do homem, para o culto do machismo, não haverá como consolidar uma relação duradoura. O mesmo se pode dizer com relação ao ciúme, principalmente por parte da mulher, sendo este sentimento a causa que vem separando milhões de casais em todo o mundo, alterando profundamente a evolução dos seres pelos efeitos que produz na prole.

É preciso não confundir carinho com carícia; o primeiro é um desdobramento da ternura, o segundo implica nos procedimentos que precedem ao envolvimento amoroso, pela manipulação e pelo toque de partes do corpo, com finalidade erótica. Mas, há certos gestos simples como o afagar de mãos, em que carinho e carícia se complementam para expressar a força da ternura e da solidariedade, principalmente entre as mulheres, enquanto que os homens usam o conhecido tapinha nos ombros ou nas costas para expressar a mesma coisa.

Não se trata de se espelhar nas qualidades de outra pessoa, tentar copiar, imitar os seus sentimentos, gestos, expressões e ações. Não existem duas pessoas exatamente iguais, cada uma tem a sua própria vivência, que é o conjunto de experiências vividas, em que influíram o grau de espiritualidade de cada um, o seu ambiente familiar, a educação e as amizades. Trata-se da criatura ser ela mesma e enxergar na outra, no próximo, o mesmo direito, aceitando essa verdade com toda naturalidade. A ênfase, o foco tem que se deslocar para a vontade de servir e se dar, para os sentimentos de admiração e confiança para que a ternura ocorra. Não se trata de sentimento permanente, mas que é deflagrado em certos momentos muito especiais em que ocorre, mutuamente, grande transferência de energia, de verdadeira torrente de fluidos, vibrações essencialmente espirituais.

A pessoa capaz de ser sensível e meiga não tem receio de expor sua ternura por alguém, porque não conhece o orgulho, já se desvencilhou dele. Não se trata de exibicionismo, de machismo ou vaidade para alisar o ego das criaturas e despertar os olhares de curiosos que estão passando ou estão por perto. Um elogio, por exemplo, pode conter um sentimento de admiração, uma grande dose de carinho e ternura, se for sincero, e, ainda assim, poderá ser recebido com desdém se não houver empatia entre ambos.

A ternura brota da alma das criaturas de espiritualidade elevada, desprendida. Afagos e carinhos não são ações puramente materializadas; ao contrário, provêm do sentimento e da vontade, estão na compreensão de não estarem sós, firmam-se no desejo de estarem sempre juntas, de não se afastarem uma da outra, de precisarem-se mutuamente, de conviverem, de trocarem segredos e confidências, na certeza de poderem confiar sem o risco de virem a ser traídas. Essa cumplicidade é deliciosa, porque se desdobra do sentimento de ternura. Já a carícia é a materialização, a execução da ternura através dos gestos e dos toques. Pode haver carícia sem ternura, manifestada de forma egoísta por uma ou ambas as criaturas, mas a verdadeira ternura pode existir e até se manifestar sem a carícia, de outras formas, como, por exemplo, nos momentos de solidariedade e compaixão que hipotecamos às pessoas queridas, quando as vemos sofrer a perda de um ente querido. Aqui, vemos que a ternura está na atitude do gesto, embora não haja carícia ou afago.

Aqueles que conseguem fazer a ternura brotar de seus corações, que são capazes de fazer vibrar seus bons sentimentos de bondade, solidariedade, fraternidade e amor por alguém, tanto na alegria como na dor, são criaturas de sentimentos elevados, de espiritualidade desenvolvida. Despojaram-se dos baixos desejos materialistas e dos sentimentos negativos mais nefastos, como o ódio, a inveja, o ciúme, o egoísmo e o orgulho. São pessoas felizes por comprazerem sua felicidade com o seu próximo, dando sem nada pedir nem esperar recompensas, com simples naturalidade, por prazer de viver assim. Não se deve confundir essa felicidade com a aparente felicidade daqueles que, usufruindo desregradamente da força do dinheiro e do poder, parecem mas não são felizes, no sentido mais elevado que o termo felicidade enseja. Veja o tema “A Felicidade” em outra parte desta obra.