A dignidade é um sentimento que requer alto valor moral. É, portanto, uma qualidade espiritual positiva e nobre. Sendo um atributo do bom caráter, o homem digno é encontrado em todas as camadas sociais. A dignidade implica no uso da liberdade com autonomia para poder não se vergar ao domínio e exploração que as criaturas mais bem dotadas, materialmente falando, impõem sobre os pobres, miseráveis e desassistidos. A dignidade soma, integra e inclui engenho e virtude.
Quem é digno possui firmeza de espírito, é firme em suas opiniões, não se acumplicia com opiniões alheias e até desafiam-na se isto for necessário para salvar a sua. Quem é digno sabe renunciar a qualquer cargo, posição ou bem material quando for chegada a hora, já que nunca trai seus ideais. Onde faltar a dignidade não existirá sentimento de honra. Assim, o homem digno é sempre honrado e jamais será escravo, capacho ou joguete de alguém. Jamais será arrebanhado.
Não será exagero considerar a coragem como sendo a primeira das eloqüências, pois a coragem integra o caráter. Ambas essas virtudes, coragem e caráter possuem-nas o homem digno que respalda suas ações em direção à perfeição. Os homens dignos sabem refletir quando convém agir; já os fracos agem sem refletir. O mérito das ações que empreendem é medido pelo esforço que requerem e não pelos seus resultados.
Escreveu José Ingenieros: “Sem coragem não há honra” [INGENIEROS, 1953, p. 157]. A dignidade, que está sempre associada à honra, podemos vê-la na atitude dos sábios e cientistas que procuram abrir as novas fronteiras da ciência; está também, nos moralistas que abrem para si e para os outros os caminhos do Bem; pode ser vista em todas as pessoas de atitudes firmes, para resistirem às tentações e vícios de toda espécie; é encontrada ainda, em gestos extremos, como nos mártires que foram para a fogueira por desmascararem a tirania religiosa e a hipocrisia, ou até naqueles que num gesto extremo, ateiam fogo às suas vestes por não aceitarem a violência e a tirania.
O homem digno jamais pede o que merece, nem tampouco aceita o imerecido. O homem digno é insubornável, incorruptível. Quando aspira a um cargo, seja nas empresas, seja na política ou no serviço público, não sobe por favoritismo, mas por mérito e pelas suas virtudes.
O homem digno abomina qualquer favor, só aceita o que pode ser dado por mérito e guarda esse orgulho, o bom orgulho, acima de tudo, conservando-se erguido e incólume. Por isso jamais se rebaixará, preferindo perder um direito a obter um favor.
Por tomar atitudes assim tão definidas e sem recortes, as criaturas dignas são, na maior parte das vezes, solitárias. Seu recolhimento é quase sempre uma constante, a não ser que possa estar com seus iguais.
O homem digno é obstinado e leva em consideração não depender de ninguém; procura garantir a sua independência material com trabalho sério e árduo, porque sabe que, perdida esta, sua honra estará exposta às pressões dos poderosos. Por isso procura garantir, com seu trabalho, posição de independência no futuro. Ele luta para fugir da miséria e da pobreza, para poder alcançar um ideal mais elevado, um trabalho menos servil e mais agradável, vencendo com sobranceria os desafios da vida.
Segundo os estóicos, o segredo da dignidade estava em cada um contentar-se com o que tem, restringindo suas próprias necessidades. Mas esta não é uma boa lição, já que o progresso material pode levar, embora não seja esta a regra, muitos a acumularem fortuna, dela fazendo bom uso em benefício dos necessitados, redimindo-se de uma vida desgastada e que de outra forma se tornaria medíocre e inútil. Muitas fundações e instituições que difundem a cultura e as artes respondem por estas honrosas exceções.
Em contraposição aos estóicos, preferimos levar a mensagem de que os únicos bens verdadeiros não são os materiais, mas os valores que se consolidam em nossas mentes e em nossos corações, em função das boas ações que viermos praticar usando nosso livre-arbítrio para o bem. Quando estas deixam de existir, nenhum tesouro poderá substituí-las.