A criatura tem na consciência
o juiz dos seus atos. Quando pratica o mal, a consciência lhe dói, insurge-se e
protesta. O indivíduo só está em paz com a sua consciência quando as suas ações
afinam pelo comportamento correto, legal, em plena consonância com a moral
cristã.
Acontece, porém,
que, quando a criatura insiste em proceder mal, a consciência vai cada vez
doendo menos, vai-se amortecendo o seu vigor moral, aos poucos perde a
sensibilidade, a ponto de parecer que está morta. Os grandes criminosos têm a
consciência insensível, sufocada, muda.
Ao contrário, quando
o indivíduo se esforça para andar sempre pelo caminho do bem, consultando, a
cada passo, a sua consciência, ela se torna sumamente sensível e se mantém nas
melhores condições de receptividade para atender aos apelos que lhe são
endereçados.
A consciência é uma
faculdade espiritual de grande valor. Sem ela, seria impossível o gênero humano
se conduzir. Só os animais inferiores e os criminosos inveterados agem
inconscientemente.
O astral inferior
está repleto de entes que não quiseram, quando encarnados, ouvir a voz da
consciência, deixando-se empolgar pelos instintos que os levaram ao estado
animalesco. Ninguém que tenha dado ouvidos à voz da consciência, no curso da
sua existência terrena, passará pelo dissabor de estagiar, depois da
desencarnação, nos antros pestíferos do astral inferior.
O ser ascende ao
estado humano logo que adquire recursos para fazer bom uso do livre-arbítrio e
para ouvir e respeitar a voz da consciência. Se todos bom proveito tirassem
desses atributos, que se acham ao dispor de cada um para a solução dos
problemas terrenos, a vida seria um permanente manancial de alegrias e
satisfações.
A falta de
consciência é revelada sempre que se constatam atos recriminatórios contrários
às leis naturais, ao progresso, ao bem-estar coletivo. Ela aparece nos lares,
no trato com os familiares, no trabalho externo, nas relações hierárquicas e,
na vida pública, nos postos governamentais.
A desordem
administrativa, o elevado custo de vida, a falta de assistência social, que
tanto prejudicam a estabilidade dos encarnados, são fruto da
irresponsabilidade, de ambições descontroladas, de desvios de energias, de
desequilíbrio moral, e têm, como origem, o desprezo pela voz da consciência.
Ninguém diga que
procedendo mal, agindo com incorreção, deslealdade e desonestidade não sabe que
está errado; o indivíduo erra, conscientemente, na maioria dos casos, para
beneficiar-se e dar satisfação a interesses subalternos e inferiores, que falam
alto no seu interior.
A Força Criadora
possui Consciência Absoluta e suas partículas componentes, como espíritos
encarnados ou não, expressam-se pela consciência, como derivativo moral das
condições espirituais. Viver, pois, de acordo com a aviventada consciência, é
ajustar-se às leis que regem o Universo, as quais, quando unanimemente
respeitadas, induzem ao equilíbrio em todas as funções.
Muitas vezes, por um
dever de consciência, tem o indivíduo de agir contra os próprios interesses,
mas nem por isso deve vacilar em dar o seu pronunciamento honrado, à custa de
qualquer sacrifício. Desta vida terrena, o que se leva para o acervo espiritual
são somente os feitos dignos e nobres que tenham servido de exemplos a outros
para a manutenção da estrutura ideal dos hábitos e costumes e a efetivação de
todos os princípios moralizadores.
Normalmente, o
indivíduo que trabalha não o fará porque o chefe está exigindo; os alunos que
estudam não o farão pelo temor de castigo; num como no outro caso o que deve
imperar, acima de tudo, é a voz da consciência. O trabalhador e o aluno não
precisam ser vigiados para que cumpram os seus deveres; cada qual tem de dar
satisfação à sua consciência e, por isso, deve trabalhar e estudar
conscientemente. Este o panorama correto da questão: todos precisam ter
consciência das suas obrigações, e deverão executá-las tão bem como melhor
puderem, independentemente das exigências de terceiros. Desse modo, se apura o
senso da responsabilidade, que anda tão escasso no mundo.
No caminho da
espiritualidade é a voz da consciência que deve ecoar, em todos os momentos,
pois, se o desejo é o de acertar, não existe meio mais indicado do que atender
ao sentido justo das coisas, com a interpretação pautada pelo bom-senso, pelo
equilíbrio, pela razão.
A voz da consciência
reflete sempre uma orientação superior, quando ela é realmente da consciência.
Muito cuidado com as intuições do astral inferior. Analise-se, antes, a pureza
das intenções, pois as forças inferiores, como todos sabem, não transpiram
pureza. Não se queira atribuir à consciência resoluções despidas de grandeza
moral.
A consciência não se
educa, por ser a educação nela inata. A consciência revela-se através da alma,
de forma cada vez mais apurada, na medida da evolução já alcançada. Esse
apuramento decorre do fato de tornar-se a criatura, pelo processo evolutivo,
com maior entendimento, mais capaz, mais esclarecida, mais consciente. A
consciência dos fatos se dilata na proporção do aumento da capacidade
individual e de conformidade com a modulação vibratória que se desenvolve, até
sintonizar com a Consciência Absoluta.
Assim, a expansão do
estado de consciência subordina-se ao progresso espiritual. Eis por que só no
caminho da espiritualidade encontram os seres os meios eficazes para atingir os
mais altos graus de consciência. A espiritualidade é sempre a base, o ponto de
partida para toda e qualquer iniciativa que tenha por objetivo alcançar os
páramos superiores de evolução.
Dá-se, deste modo,
no Racionalismo Cristão, o maior relevo ao acatamento que se deva conferir à
voz pura da consciência. O que se precisa educar, para ouvi-la e compreendê-la,
são o raciocínio e a lógica. Somente no trato diário com as questões
espiritualistas se chega a sentir o efeito harmonioso das deliberações que
marcam diretrizes sob a influência estimulante da voz da consciência.
Esperemos que a
humanidade possa, o quanto antes, dar mais valor aos ditames da consciência. A
falta de lealdade de uns para com os outros tem sido a causa principal de se
não consultarem os nobres preceitos da consciência. Em geral, não se cogita
fazer o que melhor fala à razão, mas o que mais convém. No que mais convém
estão, quase sempre, os interesses materialistas inferiores e o egoísmo, que
procuram manter-se velados.
Não é correndo
sofregamente atrás de riquezas terrenas para dar expansão aos desejos ocultos,
de aspecto negativo, que alguém poderá despertar a consciência adormecida no
íntimo de sua natureza. Aproxime-se cada um da sua consciência, vivendo com
renúncia, com desprendimento, com elevação moral e o propósito salutar de algo
produzir em favor da coletividade.
A consciência
adormecida pode sempre ser despertada, desde que mudem as aspirações
acalentadas, desde que se transforme o modo de entender e procurar a
felicidade, desde que se tenha por finalidade buscar para o espírito os
tesouros eternos que lhe têm de ser agregados. Isso não significa que os seres
precisam despojar-se das riquezas terrenas; o uso dessas riquezas é que deve
ser feito racionalmente, consoante a serventia que oferecem, sem permitir que
obliterem o vigor da consciência. Nesse ato reside a sabedoria que deverá ornar
a vida espiritual dos que se propõem a atravessar a existência terrena pelo
caminho da espiritualidade.
Do Livro A Felicidade Existe do escritor Luiz de Souza