30 de abril de 2010

Os deveres humanos são intransferíveis, pois o espírito encarna neste mundo para servir e não para ser servido.

Os espíritos encarnados neste mundo encontram-se investidos de deveres intransferíveis; cada qual tem o seu com a finalidade de servir‑lhe de aperfeiçoamento espiritual. Na maioria das vezes não são os deveres agradáveis de cumprir, pois podem ser sumamente pesados, difíceis, estafantes, que exijam uma dose forte de sacrifício, de renúncia e de resignação.

Compenetre‑se, porém, o ser humano de que eles não foram traçados para agradar, mas para amoldar o ser a determinadas injunções da vida, para lapidar o caráter, para desenvolver o senso da responsabilidade, para ensinar a direcionar a própria existência, a lidar com o próximo de temperamento desigual, para trabalhar o raciocínio, para aceitar a vida com ela é, e para cada um saber tirar do dever imposto o devido desenvolvimento.

Pode‑se considerar a humanidade dividida, economicamente, em três classes, a pobre, a média ou remediada, e a rica.

Na classe pobre, impera, quase sempre, o trabalho manual ou braçal, mais ou menos rude, que exige energia física, renúncia de conforto e severo controle da economia privada. Os deveres que se impõem a esta classe, perfeitamente definidos, como nas demais, asseguram a especialização dos ofícios, na sua grande variedade, habilitam os seres a praticar o socorro mútuo, pela ação direta, tornando‑se responsáveis pelo suprimento das utilidades, inclusive os produtos alimentícios, ao consumo comum, e entre os consumidores se incluem todas as classes: pobre, média e rica.

A classe pobre suporta, em regra geral, o rigor da carência, às vezes com estoicismo, outras com exemplos de resignação. Poucos são os infelizes que se revoltam com a natureza humilde dos deveres, e procuram, em vão, sacudir o jugo das limitações a que estão sujeitos.

Evidentemente é uma classe indispensável à vida, tanto quanto as outras, e por essa indispensabilidade, forçoso se toma que os seus representantes tenham paciência nos seus postos, pois se neles bem cumprirem os seus deveres, na volta à Terra terão oportunidades muito melhores.

O fato importante a registrar são as proveitosas lições recebidas nessa classe. Assim, os que nela trabalham, estão empregando muito bem o seu tempo e preparando‑se para novos empreendimentos futuros. Nem todos os seus componentes são pessoas que se estão iniciando na vida espiritual; muitos são espíritos que já fizeram as suas incursões pelas outras classes, mas que tiveram de voltar a ela pelo mau uso feito do livre arbítrio. Para estes, a adaptação ao meio já é mais penosa.

Com respeito à classe média, vale dizer que os seus integrantes sustentam também as suas fases delicadas. Precisam, muitas vezes, participar da vida em meio abastado, com a obrigação de exercer misteres próprios da gente pobre. Os recursos são quase sempre escassos, em face do preço das aparências. As donas de casa são as mais sacrificadas em seu meio, pois os afazeres domésticos, na realidade, as obrigam, por serem almas mais polidas do que as da classe anterior, a uma abnegação excepcional, para agüentarem a rudeza do labor.

Dispondo, comumente, de corpos físicos mais delicados, comparativamente, têm de suportar uma carga de serviço que pode parecer superior às forças em reserva. Neste ambiente dão‑se muitos desastres morais, pela falta de compreensão e espiritualidade. Vencem aquelas criaturas que trouxeram valioso acervo de lutas anteriores e possuem a alma curtida pelas experiências passadas, muitas vezes repetidas.

A vida nesta classe oferece perigos maiores do que na primeira enunciada, por ser onde se marca passo, até por centenas de encarnações. Aí se encontra o maior número de pessoas revoltadas, inconformadas e desajustadas. As folganças na vida da classe rica são objeto de aspiração dessa classe que, não estando espiritualmente preparada para compreender a realidade dos fatos, exaspera-se, comete desatinos e perturba‑se. No entanto, muitos há que compreendem a situação pelo aspecto da vida espiritual, e seguem os seus caminhos, serenamente, na certeza de darem por bem aproveitado o tempo aplicado nos deveres que lhes tocam.

Na classe dos ricos se encontram aqueles que, em maior proporção, estão acumulando débitos. Andam pelo terreno das futilidades. Pagam a servidores para não trabalhar. O dinheiro cobre todas as necessidades. Os deveres ficam para os outros. O ambiente de luxúria é o que predomina. Gastos supérfluos são feitos a todo momento. O desperdício é hábito rotineiro. A desgraça alheia fica muito distante. Exercitam a falsa caridade e os atos chamados piedosos se misturam com as pompas sociais.

A vaidade, o orgulho, a presunção, a ostentação de grandezas, a arrogância, o enfatuamento, são, ordinariamente, os alimentos viciosos do espírito. A maioria deles, na volta à Terra, irá para a classe dos pobres. O dinheiro é o veículo mais apropriado para o indivíduo pôr à mostra uma série de defeitos morais; com dinheiro farto, ele dificilmente se contém; dá expansão franca e plena aos seus instintos, às suas ânsias insatisfeitas, à sua grande e falsa oportunidade. Então farta‑se de semear o joio, sem se preocupar com a colheita.

Nem todos, porém, se perderam nesse caminho ilusório, visto que pela sensibilidade espiritualista, têm consciência da Vida e procedem como criaturas seguras da sua posição.

Muitos outros penetram nessa classe provindos das outras duas por processos ilegítimos baseados na usurpação, no assalto, na especulação desonesta. Estes são autênticas vítimas de si mesmos, cabendo‑lhes devolver em dobro tudo quanto subtraíram dolorosamente ao seu semelhante.

Do Livro Ao Encontro de Uma Nova Era

Os grandes espíritos que encarnaram neste mundo para auxiliar o progresso da grei humana, fizeram-no movidos pela ação consciente do dever.

Os grandes espíritos que encarnaram neste mundo para auxiliar o progresso da grei humana, fizeram-no movidos pela ação consciente do dever. Nunca para atender à vontade de quem quer que seja, e muito menos de um suposto pai celestial.

Na esfera espiritual nãopais nem filhos. O que há, o que existe, em verdade, é uma enorme comunhão de espíritos numa infinita graduação evolutiva, em que todos os serestodos, sem exceção — têm uma origem comum: a Força Criadora ou Inteligência Universal.

Nos mundos dispersos pelo Espaço, encontram-se — usando de reduzidos números para facilitar a compreensão humanamilhões e milhões de espíritos em cada plano de evolução.

Aqui mesmo na Terra têm encarnado, embora raramente, espíritos de evolução superior ao meio para auxiliarem a humanidade a progredir, sendo que inúmeros outros, do mesmo grau de evolução, estão desenvolvendo atividades espirituais em outras regiões do Universo.

Quanto mais adiantado o espírito, tanto maior o desejo que sente de auxiliar a evoluir o semelhante.

Daí a razão de submeter-se, voluntariamente, ao sacrifício de encarnar em mundos da espécie deste, quando a vida, nos planos correspondentes ao seu adiantamento, embora sempre trabalhosa, decorre num ambiente de incomparável bem-estar comum.

Negarem a Jesus o valor, o mérito de haver conquistado a sua evolução espiritual à custa de grandes lutas, de trabalhos, de sofrimentos, de desencarnações e reencarnações, atribuírem as qualidades, a nobreza, os altos atributos que possui esse grande espírito ao privilégio de uma suposta filiação divina, é erro grave que cometem, além de demonstração de lamentável ignorância relativamente à vida espiritual.

Quem demonstra maior valor, o líder que ascendeu ao posto com esforço e merecimento próprios, depois de haver vencido todas as etapas que o levaram à plenitude da experiência e do saber, ou o que foi singularmente colocado nessa posição, com fundamento na hierarquia de antepassados?

Os adoradores de Jesus classificam-no, obcecadamente, nesta segunda posição, influenciados pela concepção deísta. Para esses, o valor de tão admirável e evoluído espírito está mais na filiação ao hipotético deus-pai, do que nos seus próprios méritos, quando, na verdade, deve exclusivamente a si mesmo tudo quanto adquiriu e continua a adquirir para aumentar, mais ainda, os seus valiosos atributos espirituais.

O que a respeito do Espaço a inteligência humana já pode compreender, vem sendo revelado pela ciência que enfeixa tais conhecimentos.

Por mais que o ser humano expansão aos seus conhecimentos, por mais que os analise e neles se aprofunde, não poderá penetrar, partindo da limitada posição que ocupa neste planeta, em toda a extensão infinita do universo.

A mente, embora possa avançar até um certo ponto, fica sempre sem atingir a meta extrema, que se encontra sob o domínio de valores absolutos.

Perdem tempo os que se preocupam, em demasia, com a definição integral do problema do Espaço para abranger a sua concepção total, porque somente a Inteligência Universal é detentora de tão completo saber.

Antes de chegar aos problemas máximos do Universo, a criatura apenas precisa adquirir os conhecimentos necessários à sua evolução, esforçando-se por aprender as inumeráveis lições que ainda não absorveu e que precedem, de muito, aquelas que envolvem as transcendentais concepções do Espírito.

O que a respeito do Espaço a inteligência humana pode compreender, vem sendo revelado pela ciência que enfeixa tais conhecimentos.

Este planetaque serve, a um tempo, de escola e cadinho depurador a bilhões de seres encarnados — é, como miríades de outros planetas, semelhantes a uma partícula de , em relação ao Espaço Infinito.

Ele pertence a modesto sistema solar de uma grande família estelar que se chama Galáxia.

O sistema solar, do qual faz parte a Terra, compõe-se de reduzido número de planetas girando em torno do Sol.

Nenhum desses planetas tem luz própria. Esta provém dos raios solares que neles resplandecem, com acontece com a Lua cujo brilho resulta da luz solar refletida em sua metade iluminada.

Excluídos os planetas, as outras estrelas que brilham no firmamento são sóis e, portanto, centros de sistemas solares. Há sistemas solares menores do que o que contém o nosso planeta como também os há muito maiores.

Existem, ainda, outros bastante complexos, com vários sóis, e estes, de cores diferentes, produzem cambiantes de luz de diversas tonalidades, em combinações que se revezam com o pôr e o nascer de cada sol.

A luz emitida pelos corpos solares — idênticas à de qualquer corpo materialnão pode ser confundida com a Luz Astral que representa a Força Inteligente e enche o Espaço Infinito, por ser ela de constituição inteiramente diversa.

As trevas da noite nada significam para o espírito, pois este através da Luz Astral que penetra todos os corpos, até ao mais ínfimo lugar no Espaço. Dia e noite expressam períodos apenas relacionados com a vida material.

Vários são os movimentos da Terra no Espaço, salientando-se o de rotação em volta do seu próprio eixo, o de translação em redor do Sol, o que é feito, como todo o sistema solar, em torno do eixo da galáxia, e o que resulta do movimento da própria galáxia.

Todos estes movimentos são perfeitamente conjugados em velocidades uniformes e rigorosamente ajustadas.

A medida usada para avaliar as distâncias astronômicas é a extensão que a luz percorre no Espaço em um ano, tomando-se por base a sua velocidade, que é de cerca de trezentos mil quilômetros por segundo.

Com essa altíssima velocidade, ela vai de um pólo ao outro da Terra numa insignificante fração de segundo.

A distância do Sol à Terra é atravessada em oito minutos, aproximadamente. Para atravessar, porém, a galáxia do nosso sistema solar de um extremo a outro mais afastado, leva milhares de anos.

E é bom não perder de vista que existem galáxias incomparavelmente maiores, como também há sóis na galáxia a que pertence o pequeno planeta em que vivemos, dezenas de milhões de vezes maiores do que o nosso, apesar de ser este tão grande em relação à Terra, que chega a conter bem mais de um milhão de vezes o seu volume.

Universo de Galáxias

Uma galáxia é uma imensa família de sistemas solares que se contam aos milhões. A de que o nosso planeta faz parte tem a forma aproximada de uma lente biconvexa ou ovo frito, situando-se o nosso sistema solar na galáxia, mais ou menos, a um terço da distância radial que vai do eixo à sua periferia extrema.

Tudo quanto os olhos desarmados do corpo humano podem ver no firmamento é parte integrante desta galáxia, da qual a Via-Láctea representa o aro exterior.

A distância de uma galáxia a outra mais próxima é de tal magnitude que ultrapassa a capacidade de apreciação do espírito encarnado, de percepção normal.

Apesar disso, uma galáxia, com seus milhares ou milhões de sistemas solares, não representa maisem comparação com a extensão infinita do Espaço — do que uma insignificante ilha no oceano ou, menos ainda, do que um ponto no Universo.

Essa relação de grandezas convida a meditar na magnificência do Universo e na modestíssima participação do nosso planeta na composição do Todo.

E se o planeta é de composição modesta, de igual modo são os seus habitantes, modestos no saber, na inteligência, na espiritualidade e na evolução.

Se todos vivessem compenetrados dessa realidade, não haveria lugar para vaidades e tolas presunções que apenas refletem um estado próprio da Terra, pondo em evidência a ignorância e a inferioridade espiritual dos seus habitantes.

Para fazer-se idéia, ainda que imprecisa, de quantos bilhões vezes bilhões de espíritos estão em evolução em cada galáxia, basta levar em conta os milhões de sistemas solares de cada uma e considerar que em torno de cada sistema solar gira incontável número de planetas.

Se neste mundo, que é dos menores, evoluem cerca de cinco bilhões de espíritos, logicamente nos outros planetas, em média proporcional, esse número não pode ser inferior.

A Inteligência Universal, de que o pensamento emana — na sua expressão máxima — tem poder ilimitado. Nada existe no Universo sem razão de ser. Nenhuma criação foi obra do acaso, que tudo obedeceu a uma determinação rigorosamente preestabelecida, mesmo nos mais insignificantes pormenores.

O sentido da criação aqui empregado indica transformação da matéria pela ação da Força Inteligente. A idealização dos mundos corresponde às exigências da evolução.

Assim, de encarnação em encarnação, promove o espírito a sua evolução neste planeta até determinado limite. Daí por diante prossegue noutro meio, em que as condições psíquicas e físicas obedecem a sistematização diferente.

Desenvolvendo uma velocidade no Espaço de cerca de trinta quilômetros por segundo, descreve a Terra a sua órbita em torno do Sol, com precisão matemática, num período de tempo absolutamente certo.

Arrastando, por sua vez, os componentes de seu próprio sistema, numa órbita que tem por foco um ponto no eixo da galáxia, com velocidade semelhantemente elevada, o Sol completa, de igual modo, a trajetória em tempo rigorosamente exato.

Também a galáxia, transportando, com perfeita uniformidade, todos os sistemas solares de que é composta, numa velocidade do mesmo modo grande, fecha a sua órbita em um período não menos regular.

Toda essa revoluteante disposição de movimentos precisos e inalteráveis é obra da Inteligência Universal, com um fim: proporcionar meios às partículas do Todo para poderem progredir e galgar, uma a uma, os extensos degraus da evolução.

Nãoqualquer exagero em afirmar que uma única dessas partículas é tão importante quanto o próprio Todo, porque este não poderia existir sem ela, nem ela sem ele.

A obra da natureza não contém erros nem imperfeições. Suas leis são imutáveis, os movimentos matematicamente exatos, e os acontecimentos mais surpreendentes, que possam ocorrer em incursões variantes, não passam de conseqüência lógica do desdobramento da própria vida cheia de ações e reações, de causas e efeitos, mas sempre em busca do equilíbrio final.

Assim como os satélites têm os seus movimentos combinados com os dos planetas, estes com os dos sóis de cada sistema e o dos sistemas solares com todos os movimentos dos outros sistemas de cada galáxia, também os espíritos agem e evoluem coordenados uns com os outros, em fiel observância a um regime regulador de todas as funções.

O Espaço está repleto de Força e Matéria. Nada perde nem ganha. Do que tem não sobra nada nem possui de menos. O equilíbrio das leis se revela tanto no macro como no microcosmo, tanto no incomensuravelmente grande como no incomensuravelmente pequeno.

Fora do alcance visual do corpo humano, no infinito como no infinitesimal, a Vida se estende ininterrupta, integral, harmonizante com a manifestação das mais variadas vibrações.

Do Livro A Vida Fora da Matéria

27 de abril de 2010

A tolerância é o baluarte do espírito, uma virtude que contribui fortemente para o aprimoramento da espiritualidade.

A tolerância é um dos sentimentos mais difíceis de se praticar em sua plenitude, já que, para tanto, é necessário respeitar o modo de pensar e agir próprio de cada pessoa, mesmo quando se discorda de suas idéias e idiossincrasias. Ela é um baluarte do espírito, uma virtude que contribui fortemente para o aprimoramento da espiritualidade.

Quando um indivíduo age de forma reiteradamente inconsistente e refratária à boa prática moral e à boa convivência, está criando resistência à tolerância, ou seja, o indivíduo ou grupo de indivíduos assume uma posição intolerante. Dessa forma, fica mais prático falar da intolerância e dos intolerantes que grandes males causam a si mesmos e à sociedade.

A intolerância pode atingir milhões de pessoas que rejeitam opiniões contrárias às suas; daí, perseguirem qualquer idéia, crença ou doutrina em desacordo com a sua. Ao longo da História, rios de lágrimas e sangue foram derramados por causa da intolerância religiosa ou política. Dessa forma, a intolerância tem se mostrado nociva ao bom entendimento dentro dos lares, ao progresso humano e à paz, tornando-se motivo de discórdia e acirrados desentendimentos políticos e religiosos, causando crises e mais crises de convivência entre as nações.

A intolerância é sustentada por algumas distorções do caráter e defeitos de comportamento, entre eles a ignorância, o egoísmo e a introversão de alguns sentimentos retrógrados. Aqueles que persistem no desacordo e no egoísmo e se arvoram como donos da verdade, que fogem de um bom diálogo e não sabem ou não querem ouvir e raciocinar sobre as novas idéias expostas por seu interlocutor, praticam a intolerância consciente ou inconscientemente. Também, os tiranos e donos do poder, que abusam deste para impor suas idéias, métodos e pontos de vista, sem o devido debate com a opinião pública, praticam a pior intolerância, já que aqueles que tiverem a ousadia de se lhe oporem, enfrentarão grandes perseguições e dificuldades para continuarem livres, principalmente em regimes totalitários.

O ditado popular que diz que “o pior cego é aquele que não quer ver” aplica-se perfeitamente à grande maioria dos intolerantes, demonstrando na maioria das vezes falta de inteligência ou de discernimento, quando não, de má vontade e caturrice.

Na educação dos filhos, nos lares de todo o mundo, a intolerância dos pais é uma pedra no caminho para o desenvolvimento da personalidade e da evolução espiritual das crianças.

Os instintos egoísticos podem insensibilizar os pobres de espírito e a intolerância deles resultante pode impedir a espontaneidade e o desenvolvimento de muitas criaturas, principalmente das mais tímidas.

Por não concordarem com as idéias e atos de seus interlocutores falta a muitos intolerantes a capacidade para suportar as suas opiniões, expansões e atos, contrapondo-se com teimosia, em vez de fundamentá-las com argumentos lógicos e fortes. Quando dominados pelo egoísmo, muitos intolerantes só vêm o próprio interesse, o que lhes apraz. Suas razões são estreitas e mal fundamentadas, já que são incapazes de um gesto sequer de compreensão e predisposição para mudar os seus pontos de vista.

Em princípio, o intolerante age em desrespeito ao direito alheio, atropelando até mesmo aquilo que poderia ser um bom diálogo, falando e atrapalhando o entendimento, quando deveria ouvir primeiro antes de retrucar. Como julgam estarem sempre certos e donos da verdade, obstinam-se em não ouvir os que deles discordam. Freqüentemente, levantam a voz para fazer valer a sua opinião sobre qualquer outra; enfim, além de tentarem impor suas próprias idéias, tentam sufocar as idéias alheias. Tais indivíduos só vêem as suas idéias, as suas crenças, as suas causas, as suas opiniões e utilizam-se de artifícios para “levarem a melhor”. Em geral, são ranzinzas, mal-humorados, birrentos, manhosos e turrões. Para poder fazer valer suas opiniões são capazes de perder a cabeça, para não perderem a razão que julgam ter. O intolerante, incapaz de ser reto, leva tudo e a todos de roldão, já que a honra ou até mesmo a vida de seus semelhantes nada valem para ele.

A intolerância e a ignorância são irmãs siamesas, inseparáveis uma da outra. Renega-se tudo pelo prazer de discordar ou por ignorância mesmo. É preciso repudiar e rechaçar o misticismo enganoso pregado por grupos católicos e protestantes que nada contribuem para engendrar a convicção nas criaturas. E o que isto quer dizer? Nada mais, nada menos que: a preguiça e a falta de raciocínio levam as criaturas a aceitarem “verdades” montadas para enganar a humanidade. Esta passividade dos medíocres, que atravessam a vida como fieis “cordeiros” e ingênuas “ovelhinhas”, é o caldo de cultura ideal em que medram, em todo o mundo, mais de 8000 crenças, seitas e religiões exploradoras de todo tipo de crendices, “mistérios” e dogmas criados para mantê-las escravizadas aos seus falsos mandamentos.

É portanto necessário praticar e desenvolver a tolerância. Para isto, basta utilizar a inteligência e a vontade forte e equilibrada, direcionadas para o bem. O bom uso da inteligência afasta a criatura da escravização aos preconceitos e ao misticismo e a vontade forte e equilibrada serve para moderar os seus pensamentos e respeitar o direito e o pensamento alheios. Para isso, é preciso resistir aos impulsos de se contrapor, de imediato, às idéias alheias. Evite pois, reagir ao primeiro impulso; ouça primeiro, raciocine e entenda antes de retrucar ou criticar.

Mas, em alguns casos muitos especiais, pode-se admitir a intolerância e, até mesmo, louvá-la. Por exemplo, muitos renovadores e sábios, em todos os tempos, por insistirem em suas idéias e ensinamentos encontraram a resistência dos preconceituosos. A insistência e a firmeza com que cientistas e filósofos defendem suas idéias trazem grandes inovações nos campos das ciências, artes, música, enfim, em todos os campos do saber humano, levando avante o progresso do nosso mundo.

Admite-se, ainda, a intolerância para defender o espírito das leis, dos princípios e fundamentos de nossa sociedade, plasmados na Constituição de cada país moderno e democrático e assim, formar uma frente única contra a violência, o terrorismo, o vandalismo e demais iniquidades morais. Juízes, magistrados e representantes do povo têm, por dever de ofício, de serem intolerantes toda vez que a integridade daqueles princípios corre um risco de rompimento iminente. É preciso combater o vício, as drogas, o erro crasso, as arbitrariedades e a corrupção. Aqui trata-se, na verdade, mais de atos de coragem moral do que de intolerância.

O termo tolerância tem tão relevante importância que grandes autores trataram do assunto. Voltaire escreveu Tratado sobre a tolerância (1763), importante obra em que combateu a rotina, o fanatismo e o despotismo da época. Nesta obra, ressaltou que a falta de discernimento e deficiência intelectual não permitem que a criatura analise as razões alheias com isenção de ânimo.

Todo homem deve praticar a tolerância, embora nem todos sejam bem dotados para este mister. Mas, pelo menos, devem considerar-se advertidos e “vacinados” contra os grandes males que a prática da intolerância causou e vem causando ao progresso humano, como aconteceu nas negras noites da História, na época dos grandes inquisidores Torquemada e Ximenes. Basta citar que, na noite de São Bartolomeu, em 24/08/1572 e nas que lhe seguiram, a intolerância religiosa sacrificou, na França, sob a conivência do rei Carlos IX e da rainha Catarina de Médicis, a vida de mais de 30000 pessoas!

No âmbito individual, há os que se opõem a tudo, verdadeiros ranzinzas, birrentos e rabugentos, para os quais nenhum esforço de tolerância parece dar resultado. Se não houver vínculo familiar, que, por razão do amor e do dever exige dos responsáveis a convivência diária sob rigorosa disciplina com compreensão e amor no trato das questões, o melhor a fazer é afastar-se de tais criaturas.

Finalmente, embora tratando-se de casos menos complexos, é doloroso constatar-se que a intolerância nos lares de todo o mundo, em todas as classes, bem como nas escolas, nas fábricas e nos escritórios, assume verdadeiros casos de dissensão e excitação causados pela exaltação dos ânimos, que pode passar da verborréia às vias de fato.

É óbvio que a convivência familiar exige maior dose de sacrifício de cada um, em que a prática da tolerância reverte em proveito próprio, para maior evolução espiritual do ser.

Do Livro Reflexões Sobre Os Sentimentos.

A ternura é um sentimento tão envolvente que normalmente ela é devolvida, no mesmo instante, dada a sua natural reciprocidade.

A ternura é um sentimento altamente positivo. Ela está diretamente associada com os sentimentos de amizade, amor e fraternidade. Ternura é amor, carinho, meiguice, afago, compreensão e compaixão no trato com o próximo, sentimento que se traduz numa espécie de conluio, cumplicidade e intimidade entre criaturas. Sua força provém da pureza dos sentimentos, da franqueza e da sinceridade com que uma criatura se comunica com outra, não apenas por palavras, mas também, com gestos delicados, olhares cálidos, toques de mãos, afagos de solidariedade e de amor. Pela ternura nós nos tornamos íntimos de outra pessoa. Ter ternura é envolver-se carinhosamente com outras pessoas. A ternura é um sentimento tão envolvente que normalmente ela é devolvida, no mesmo instante, dada a sua natural reciprocidade.

Ninguém é uma ilha, está isolado ou sozinho no mundo. Toda pessoa gosta de ser observada, apreciada, de saber que seus dons são realçados e admirados e, também, gosta de provocar desejos e sentimentos de amor, de amizade e de fraternidade. A intimidade, que decorre naturalmente da ternura, é a chave de ouro que abre corações, e predispõe a criatura às confidências e à entrega.

Há muita ternura nas juras de amor, desde que firmadas na sinceridade de propósitos e de sentimentos puros, não egoísticos. Há ternura na mãe que amamenta seu filho, que acode prontamente quando este acorda e chora por qualquer motivo. Vêmo-la na zelosa enfermeira que cuida com todo o carinho de pacientes terminais em enfermarias e hospitais de todo o mundo. Há ternura no sorriso inocente e nas risadas cristalinas das crianças.

Ter ternura por alguém é compartilhar quase tudo do que é seu com outra pessoa, trocando confidências, caprichos, sucessos, fracassos, tormentos e conflitos, sem haver segredo entre elas. É o sentimento de ternura, muito profundo no amor, que leva duas criaturas a se entregarem uma à outra pela confiança mútua e pela empatia que irradiam entre elas. Há uma admiração das qualidades de modo afetuoso e romântico. Cada uma tem que se sentir à vontade, desinibida, responsável para que haja ternura, para que possam falar com franqueza de suas preocupações, sem condenações, sem censura, sem críticas, mas com compreensão e aceitação completa.

Duas pessoas são meigas entre si não porque uma preenche e satisfaz as necessidades da outra, mas sim, porque vibram com as mesmas idéias, pactuam com os mesmos sentimentos, sentem prazer em estar juntas, partilham dos mesmos gostos, apreciam as mesmas iguarias, assistem aos mesmos espetáculos, enfim, porque existe uma identificação de pensamentos, sentimentos e propósitos compartilhados.

A ternura pede sinceridade e confiança; sem estas, não há ternura, ela não se consuma. É importante que se observe que pregar a igualdade é uma coisa, praticá-la é outra e isso faz uma grande diferença no relacionamento entre duas criaturas, principalmente no amor. Se houver uma tendência, ainda que pequena, por parte do homem, para o culto do machismo, não haverá como consolidar uma relação duradoura. O mesmo se pode dizer com relação ao ciúme, principalmente por parte da mulher, sendo este sentimento a causa que vem separando milhões de casais em todo o mundo, alterando profundamente a evolução dos seres pelos efeitos que produz na prole.

É preciso não confundir carinho com carícia; o primeiro é um desdobramento da ternura, o segundo implica nos procedimentos que precedem ao envolvimento amoroso, pela manipulação e pelo toque de partes do corpo, com finalidade erótica. Mas, há certos gestos simples como o afagar de mãos, em que carinho e carícia se complementam para expressar a força da ternura e da solidariedade, principalmente entre as mulheres, enquanto que os homens usam o conhecido tapinha nos ombros ou nas costas para expressar a mesma coisa.

Não se trata de se espelhar nas qualidades de outra pessoa, tentar copiar, imitar os seus sentimentos, gestos, expressões e ações. Não existem duas pessoas exatamente iguais, cada uma tem a sua própria vivência, que é o conjunto de experiências vividas, em que influíram o grau de espiritualidade de cada um, o seu ambiente familiar, a educação e as amizades. Trata-se da criatura ser ela mesma e enxergar na outra, no próximo, o mesmo direito, aceitando essa verdade com toda naturalidade. A ênfase, o foco tem que se deslocar para a vontade de servir e se dar, para os sentimentos de admiração e confiança para que a ternura ocorra. Não se trata de sentimento permanente, mas que é deflagrado em certos momentos muito especiais em que ocorre, mutuamente, grande transferência de energia, de verdadeira torrente de fluidos, vibrações essencialmente espirituais.

A pessoa capaz de ser sensível e meiga não tem receio de expor sua ternura por alguém, porque não conhece o orgulho, já se desvencilhou dele. Não se trata de exibicionismo, de machismo ou vaidade para alisar o ego das criaturas e despertar os olhares de curiosos que estão passando ou estão por perto. Um elogio, por exemplo, pode conter um sentimento de admiração, uma grande dose de carinho e ternura, se for sincero, e, ainda assim, poderá ser recebido com desdém se não houver empatia entre ambos.

A ternura brota da alma das criaturas de espiritualidade elevada, desprendida. Afagos e carinhos não são ações puramente materializadas; ao contrário, provêm do sentimento e da vontade, estão na compreensão de não estarem sós, firmam-se no desejo de estarem sempre juntas, de não se afastarem uma da outra, de precisarem-se mutuamente, de conviverem, de trocarem segredos e confidências, na certeza de poderem confiar sem o risco de virem a ser traídas. Essa cumplicidade é deliciosa, porque se desdobra do sentimento de ternura. Já a carícia é a materialização, a execução da ternura através dos gestos e dos toques. Pode haver carícia sem ternura, manifestada de forma egoísta por uma ou ambas as criaturas, mas a verdadeira ternura pode existir e até se manifestar sem a carícia, de outras formas, como, por exemplo, nos momentos de solidariedade e compaixão que hipotecamos às pessoas queridas, quando as vemos sofrer a perda de um ente querido. Aqui, vemos que a ternura está na atitude do gesto, embora não haja carícia ou afago.

Aqueles que conseguem fazer a ternura brotar de seus corações, que são capazes de fazer vibrar seus bons sentimentos de bondade, solidariedade, fraternidade e amor por alguém, tanto na alegria como na dor, são criaturas de sentimentos elevados, de espiritualidade desenvolvida. Despojaram-se dos baixos desejos materialistas e dos sentimentos negativos mais nefastos, como o ódio, a inveja, o ciúme, o egoísmo e o orgulho. São pessoas felizes por comprazerem sua felicidade com o seu próximo, dando sem nada pedir nem esperar recompensas, com simples naturalidade, por prazer de viver assim. Não se deve confundir essa felicidade com a aparente felicidade daqueles que, usufruindo desregradamente da força do dinheiro e do poder, parecem mas não são felizes, no sentido mais elevado que o termo felicidade enseja. Veja o tema “A Felicidade” em outra parte desta obra.

O homem digno jamais pede o que merece, nem tampouco aceita o imerecido.

A dignidade é um sentimento que requer alto valor moral. É, portanto, uma qualidade espiritual positiva e nobre. Sendo um atributo do bom caráter, o homem digno é encontrado em todas as camadas sociais. A dignidade implica no uso da liberdade com autonomia para poder não se vergar ao domínio e exploração que as criaturas mais bem dotadas, materialmente falando, impõem sobre os pobres, miseráveis e desassistidos. A dignidade soma, integra e inclui engenho e virtude.

Quem é digno possui firmeza de espírito, é firme em suas opiniões, não se acumplicia com opiniões alheias e até desafiam-na se isto for necessário para salvar a sua. Quem é digno sabe renunciar a qualquer cargo, posição ou bem material quando for chegada a hora, já que nunca trai seus ideais. Onde faltar a dignidade não existirá sentimento de honra. Assim, o homem digno é sempre honrado e jamais será escravo, capacho ou joguete de alguém. Jamais será arrebanhado.

Não será exagero considerar a coragem como sendo a primeira das eloqüências, pois a coragem integra o caráter. Ambas essas virtudes, coragem e caráter possuem-nas o homem digno que respalda suas ações em direção à perfeição. Os homens dignos sabem refletir quando convém agir; já os fracos agem sem refletir. O mérito das ações que empreendem é medido pelo esforço que requerem e não pelos seus resultados.

Escreveu José Ingenieros: “Sem coragem não há honra” [INGENIEROS, 1953, p. 157]. A dignidade, que está sempre associada à honra, podemos vê-la na atitude dos sábios e cientistas que procuram abrir as novas fronteiras da ciência; está também, nos moralistas que abrem para si e para os outros os caminhos do Bem; pode ser vista em todas as pessoas de atitudes firmes, para resistirem às tentações e vícios de toda espécie; é encontrada ainda, em gestos extremos, como nos mártires que foram para a fogueira por desmascararem a tirania religiosa e a hipocrisia, ou até naqueles que num gesto extremo, ateiam fogo às suas vestes por não aceitarem a violência e a tirania.

O homem digno jamais pede o que merece, nem tampouco aceita o imerecido. O homem digno é insubornável, incorruptível. Quando aspira a um cargo, seja nas empresas, seja na política ou no serviço público, não sobe por favoritismo, mas por mérito e pelas suas virtudes.

O homem digno abomina qualquer favor, só aceita o que pode ser dado por mérito e guarda esse orgulho, o bom orgulho, acima de tudo, conservando-se erguido e incólume. Por isso jamais se rebaixará, preferindo perder um direito a obter um favor.

Por tomar atitudes assim tão definidas e sem recortes, as criaturas dignas são, na maior parte das vezes, solitárias. Seu recolhimento é quase sempre uma constante, a não ser que possa estar com seus iguais.

O homem digno é obstinado e leva em consideração não depender de ninguém; procura garantir a sua independência material com trabalho sério e árduo, porque sabe que, perdida esta, sua honra estará exposta às pressões dos poderosos. Por isso procura garantir, com seu trabalho, posição de independência no futuro. Ele luta para fugir da miséria e da pobreza, para poder alcançar um ideal mais elevado, um trabalho menos servil e mais agradável, vencendo com sobranceria os desafios da vida.

Segundo os estóicos, o segredo da dignidade estava em cada um contentar-se com o que tem, restringindo suas próprias necessidades. Mas esta não é uma boa lição, já que o progresso material pode levar, embora não seja esta a regra, muitos a acumularem fortuna, dela fazendo bom uso em benefício dos necessitados, redimindo-se de uma vida desgastada e que de outra forma se tornaria medíocre e inútil. Muitas fundações e instituições que difundem a cultura e as artes respondem por estas honrosas exceções.

Em contraposição aos estóicos, preferimos levar a mensagem de que os únicos bens verdadeiros não são os materiais, mas os valores que se consolidam em nossas mentes e em nossos corações, em função das boas ações que viermos praticar usando nosso livre-arbítrio para o bem. Quando estas deixam de existir, nenhum tesouro poderá substituí-las.

José Ingenieros nos transmitiu estas linhas: “Inflexíveis e tenazes, porque trazem no coração uma fé sem dúvidas, uma convicção que não trepida, uma energia indômita que não cede, nem teme coisa alguma, costumam manifestar asperezas urticantes para com os homens amorfos. Em alguns casos podem ser altruístas, ou porque são cristãos, na mais alta acepção do vocábulo, ou porque são profundamente afetivos; apresentam então, um dos caracteres mais sublimes, mais esplendidamente belos que tanto honram a natureza humana. São os santos da honra, os poetas da dignidade. Sendo heróis, perdoam as covardias dos outros; sempre vitoriosos em face de si mesmos, compadecem-se dos que, na batalha da vida, semeiam, feita em pedaços sua própria dignidade. Se a estatística pudesse nos dizer o número dos homens que possuem este caráter, em cada nação, essa cifra bastaria, por si só, melhor do que qualquer outra, para nos indicar o valor moral de um povo”.

Do Livro Reflexões Sobre Os Sentimentos

23 de abril de 2010

A consciência é a nossa bússola norteadora, o nosso instrumento de navegação, que nos conduz de acordo com os princípios morais

A consciência é a faculdade que integra três faculdades essenciais do espírito: pensamento, força de vontade e livre-arbítrio. É ela que estabelece os princípios, normas e procedimentos de conduta a seguir, para que a criatura possa discernir o certo do errado, o bem do mal e fazer a sua evolução espiritual da forma correta, mais direta, com menos erros e falhas, em direção à Inteligência Universal, de que é partícula, e para onde voltará após atingir a perfeição.

A consciência é a nossa bússola norteadora, o nosso instrumento de navegação, que nos conduz de acordo com os princípios morais e as leis universais. É ela que ilumina nossos caminhos, que nos põe em consonância com os princípios do bem, afastando todo o mal. É através dela que alcançaremos a Perfeição Absoluta na longa estrada da evolução. Ela, a Consciência, aqui grafada com letra maiúscula, é o atributo absoluto, que no Universo, confraterniza todos os espíritos num só pensamento de Amor e Paz.

A consciência é o nosso juízo, a nossa razão e é a ela que nos devemos submeter em todos os atos de nossa vida. Ela é a Lei Magna de nossa evolução. Não confundir a consciência com memória. Esta é o nosso repositório de conhecimentos, experiência e saber de tudo que fizemos, fazemos ou viermos fazer. O resultado de nossos esforços, pensamentos e ações são gravados nela de forma indelével, impossível de serem apagados. Podemos compará-la a um moderno disco ótico de CD-ROM usado em multimídia nos computadores, no qual são colocadas em código de computação milhões e milhões de informações como textos que se pode ler, imagens que se pode ver, sons que se podem ouvir, isolada ou combinadamente. Para isto, basta achar o local onde se acham armazenadas as informações, em arquivos, e reproduzir no computador o que desejamos. Cada CD-ROM é único, tem sua identidade. Assim é a nossa memória. Já a consciência baliza, modela e julga os nossos atos.

A inter-relação ou integração do espírito com o corpo forma o “eu pessoal”, “eu consciente” ou simplesmente o “eu” ou personalidade, na terminologia dos psicólogos modernos. O “eu consciente” tem a consciência como atributo essencial, que dita a conduta ou modela a personalidade da criatura. Ele exterioriza idéias como “eu penso, eu sinto, eu quero”. Já “o que eu penso, o que eu sinto, o que eu quero”, isto é, o objeto das idéias tem que passar pelo crivo da vontade e do livre-arbítrio; todos, por sua vez, devem ser submetidos ao crivo, ao rigor vigilante da consciência que norteia, que baliza a conduta. Segundo os psicólogos, a consciência exerce o papel de censor, de “superego”.

A integração dos três atributos essenciais do espírito, pensamento, vontade e livre-arbítrio pela consciência cria uma unidade harmônica induzida pela vibração da energia espiritual que atua diretamente no seu instrumento material — o cérebro humano —, produzindo os efeitos que conhecemos como sendo a vida humana. O cérebro, por sua vez, conduz as ações e exprime os sentimentos que queremos transmitir em nossa vida de relação com os nossos semelhantes.

Para ficar bem claro o que acima dissemos, é preciso entender que tudo o que pensamos nos vem de fora; captamos nossas idéias por intuição — elas não são elaboradas fisiologicamente pelo nosso cérebro. Grifamos propositadamente o possessivo nosso. Nós utilizamos o cérebro, nessas circunstâncias, como instrumento de captação. Mas, nós quem, nosso “eu”? Agora, temos três palavras grifadas e ainda não definimos quem somos nós, não é verdade? Nós somos constituídos de Força e Matéria. A Força é a energia espiritual, partícula da Inteligência Universal, o “sopro da vida” e a Matéria é o instrumento do espírito, o nosso corpo, organizado pelo espírito para a sua evolução na Terra com os elementos químicos próprios da Terra.

Não há nenhuma dualidade no que dissemos; o que existe é uma integração entre Força e Matéria. A consciência promove esta união entre as duas realidades. As idéias nos vêm de fora e o pensamento que é vibração do espírito as elabora para organizá-las e pô-las em ação através da vontade, que é o dínamo do espírito. Se o pensamento fosse uma elaboração fisiológica do cérebro, não conteria uma variação quase infinita de idéias e imagens, já que o produto fisiológico de um órgão tem uma composição aproximadamente constante, como é, por exemplo o caso da insulina produzida pelo pâncreas ou a bílis, produzida pelo fígado. Sua composição química é praticamente constante, conforme detectado por análises clínicas. No processo de integração referido, o livre-arbítrio intervém para que a plena liberdade de ação seja observada, nada sendo feito por imposição, mas por deliberação própria. Veja nesta obra os temas “O Pensamento”, “A Vontade” e “O Livre-arbÍtrio”.

Para cumprir os desígnios da consciência, basta colocar o nosso livre-arbítrio atuando em perfeita harmonia com os princípios da moral, bom senso e justiça. Moral e justiça são conceitos natos na criatura desde a mais tenra idade. A influência do meio e a orientação que vier receber dos pais poderá realçar ou deturpar estes conceitos. Daí, a importância dessa ação orientadora, a qual deve ser desempenhada com muita compreensão, ternura e amor.

A obediência que devemos à nossa consciência será sempre cobrada por esta, em qualquer circunstância e em qualquer tempo ou ocasião. Não se trata de uma obediência cega, para fazer ou deixar de fazer o que a vontade ditar (isto é função do livre-arbítrio), mas de uma exigência ao cumprimento do dever, segundo os princípios da moral e da justiça, o que vale dizer, em consonância com o Bem. O não cumprimento ou afastamento das diretrizes planejadas pelo espírito antes de encarnar, em seu mundo de origem, traz conseqüências nefastas, retardando a evolução espiritual da criatura.

A criatura que se afastar das diretrizes traçadas, praticando o mal consciente ou inconscientemente, será acometida de arrependimento ou, quando causar mal maior ou injustiças danosas para os seus semelhantes, pelo remorso. Estes sentimentos não deixarão a sua consciência em paz, e não serão apagados, senão pelos sofrimentos pelos quais terá a criatura de passar, segundo a lei de causa e efeito, inapelavelmente. Se não puder resgatar estas falhas durante sua presente encarnação, terá que fazê-lo em outras, inexoravelmente.

É muito útil e recomendável fazer diariamente, antes de dormir, em exame de consciência dos atos praticados durante o dia. Assim procedendo a criatura poderá detectar deslizes perniciosos e ir fazendo a correção de rumo, sem deixar acumular pesadas falhas, cujo resgate, mais tarde, será sempre mais doloroso. Seja, portanto, seu próprio juiz pela ação do pensamento e da vontade corretora de suas falhas. Somos todos imperfeitos, e esta luta entre as boas e más ações ressoa em nossa consciência. Teremos que travá-la com nossas forças interiores, com discernimento e lucidez de raciocínio para separar o joio do trigo.

Para ascender a outros planos espirituais mais elevados, em nossa longa caminhada para a perfeição, temos que passar por todas as provações, limpar todas as máculas, afastar todos os erros e males, depurar nosso espírito, adquirir todos os méritos necessários e desapegar-nos dos bens materiais, isto é, tornarmo-nos livres do sentimento de posse das coisas terrenas.

É óbvio que acabamos de descrever condições ideais. Mas, a realidade da vida terrena nos oferece toda sorte de situações que se afastam delas. Encontramos, nas relações com nossos semelhantes, uma diversidade muito grande de graus de evolução, de sensibilidade e espiritualidade diferentes da nossa, de necessidades materiais e espirituais diversas, de afetividades conflitantes sob a forma dos mais variados sentimentos, emoções e paixões, umas nobres e dignas, outras desprezíveis e vergonhosas.

Nesse torvelinho de sentimentos e vibrações de toda espécie e gênero, invocamos a razão, a lógica e o raciocínio para impor a ordem e a disciplina e finalmente triunfar. Cada um terá que fazer isso por si mesmo, usando seus recursos espirituais já mencionados, sem contar com a ajuda de quem quer que seja. Nesse longo processo, que consumirá muitas vidas, muitas encarnações, a consciência tem um papel relevante, que é o de aferir, sopesar, comparar os ganhos e as perdas, fazer o balanço de nossas ações passadas e traçar a rota de nossas ações futuras. Ao julgar nossas ações, age a consciência como juiz de si própria, um censor; ao traçar novas ações, age como um planejador, balizando a nossa evolução, impondo-nos desígnios e metas para melhor cumprimento de nosso dever. O esforço de uns poderá encurtar sua caminhada; a inércia de outros, poderá estendê-la. Não há outras alternativas.